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A galinha dos ovos de ouro

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A pecuária já representa 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e gera 18% das exportações do agronegócio nacional. O setor já passou por vários ciclos de expansão e retração e na média sempre cresceu, inovou, não deixando dúvidas que constitui um dos nossos principais pilares econômicos. Agora, porém, vive um momento de atenção diante da fragilidade de alguns setores mais expostos aos efeitos da reorganização econômica contemporânea. É preciso, no entanto, entender o contexto e a multiplicidade de razões que impactaram e seguem impactando esses empreendimentos no Brasil e avaliar os riscos de contágio de toda a cadeia produtiva.

Dentre os fatores que influenciaram negativamente estão o enfraquecimento dos embarques observados desde 2010, graças à valorização da moeda brasileira, além dos embargos impostos pelos Estados Unidos, Rússia e África do Sul e da perda do vigor de clientes internacionais importantes. A quantidade de carne bovina exportada recuou 12% em 2011. A carne de frango aumentou apenas 3%, enquanto a exportação de carne suína recuou mais de 5%. A baixa pressionou os preços pagos aos produtores por conta da maior oferta no mercado doméstico. Todo o excedente não exportado “sobrou” no consumo interno, conforme os ditames da relação da oferta versus procura das mercadorias.

Volume de carne bovina exportada recuou 12% e a suína mais 5% em 2011. O frango teve um aumento de apenas 3% Como se não bastasse, simultaneamente esses setores continuam afligidos pela alta no custo das commodities, o que acaba por encarecer a produção. A influência negativa da estiagem na safra americana, a demanda crescente para produção de etanol, o efeito La Niña no sul do Brasil e o crescente apetite chinês alavancaram o preço do milho. Apesar do arrefecimento observado em abril a subida forte nas cotações do cereal se deu em meados de 2010 e até janeiro de 2012 o aumento acumulado era de quase 70 pontos percentuais.

O farelo de soja, por sua vez foi alçado à estratosfera e, em abril, já acumulava aumento anualizado de 40% no preço, enquanto, desde janeiro, o salário mínimo, indexador da folha de pagamentos, vem onerando sobremaneira por causa da amplitude do reajuste de quase 15%. Vale lembrar que os produtores de aves e suínos utilizam rações com milho e farelo de soja, que quando somados, totalizam em 90% da composição. Além disso, a execução do trabalho no dia a dia é intensiva em mão de obra. As atividades conjuntamente respondem por 2 milhões de empregos diretos.

Ademais, a tarifa de energia elétrica brasileira é duas vezes mais cara que a praticada nos RIC (Rússia, Índia e China), apesar da nossa grande vantagem hídrica, e é tributada em mais de 30%, muito acima do padrão internacional. A eletricidade, insumo essencial para controle da temperatura e conforto dos animais nos galpões e conservação dos produtos perecíveis nas câmaras frigoríficas é usada contínua e ininterruptamente na cadeia produtiva.

Para resumir, a concomitância dos três fatores (custo de produção e operacional nas alturas, preços demasiadamente baixos e exportações enfraquecidas) já apontava para a luz amarela. As notícias da recuperação judicial de uma dúzia de frigoríficos de bovinos e outros anúncios recentes por parte de abatedouros de aves neste início de 2012 já colocam definitivamente o segmento em sinal vermelho, exigindo atenção redobrada dos fornecedores.

O fato significa em última instância o estado de pendência dos devedores com o restante da cadeia ou, de forma mais pragmática, credores diante de montantes não corrigidos e parcelamentos a perder de vista. O raciocínio é simples. Se o cliente não paga o seu fornecedor, este fica sem capital para pagar os outros e assim por diante.

É flagrante observar a escassez do crédito doméstico para capital de giro e compreender a falta de fôlego financeiro de alguns empreendimentos, agravado pelo estado atípico das companhias e agentes não arriscarem acessar as fontes externas por conta da crescente aversão ao risco.

A desvalorização da nossa moeda, por um lado, devolveu competitividade aos exportadores, contudo, teima em perturbar o sono dos produtores locais e seus respectivos empreendimentos, já que o impacto da conversão pelo câmbio atual pode comprometer sobremaneira os balanços. O tamanho da encrenca vai depender do índice de endividamento atrelado ao dólar americano.

Apesar da fragilidade conjuntural, é mais do que fundamental atentar para os riscos da recuperação judicial – medida legal que objetiva a superação da crise e permite continuidade da atividade econômica e preservação do emprego por meio da apresentação em juízo do plano de quitação dos débitos – mas, que às vezes, é travestida de puro oportunismo.

A hipotética tendência de novos pedidos pode arrastar os demais elos da cadeia de produção e, sem dúvida, não é desfecho admitido por produtores, abatedouros, frigoríficos, fornecedores de insumos, consumidores e principalmente o governo. A situação não pode ser negligenciada e as negociações devem sempre convergir para o cumprimento dos contratos comerciais firmados entre as partes.

A prática da disciplina financeira e exercício da moderação em época da fartura são requisitos indispensáveis à sustentabilidade de qualquer negócio e revelam toda sabedoria implícita na fábula da “cigarra e da formiga”. Já o conto da “galinha dos ovos de ouro” deveria tornar-se o livro de cabeceira para muita gente grande.

Ariovaldo Zani é vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).

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