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Resistência antimicrobiana em foco no SIAVS

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Painel foi realizado nesta tarde e reuniu representantes da OIE, OMS, Codex Alimentarius, Ministério da Agricultura e Sindirações.

O uso de antibióticos como melhoradores de desempenho na produção animal está em xeque e vem sendo duramente questionado pelos consumidores no mundo todo. O movimento para redução e, até banimento, desse tipo de substância na criação de aves e suínos é crescente e tem mobilizado grandes players do mercado mundial. Na Europa o uso de antibiótico já foi completamente abolido, sendo permitido apenas em sua forma terapêutica. Nos Estados Unidos já existe legislação sobre o tema, embora a adesão aos programas de redução desses aditivos seja voluntária.

No Brasil, ainda não há restrição ao uso de antimicrobianos na produção animal. Mas como grande produtor e exportador de proteína animal, o País tem dado bastante atenção ao tema e se preparado para responder a essa demanda da sociedade contemporânea. Entre as iniciativas adotadas está a criação do Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos, liderado pelo Ministério da Agricultura, que preconiza o uso responsável e eficaz de antibióticos na produção animal.

“A resistência antimicrobiana e sua implicação na produção de aves e suínos foi o mote central do Painel promovido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) nesta tarde, durante o Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura – SIAVS. Na oportunidade foram discutidos temas como o Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos, além da visão de importantes entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e do Codex Alimentarius.”

Mediador do debate, Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) gentilmente nos concedeu uma entrevista. Os melhores trechos você confere a seguir.

AviNews – O banimento do uso de antibióticos, como melhoradores de desempenho, na produção animal é uma forte exigência dos consumidores. Na Europa e Estados Unidos já existe legislação sobre o tema. Como é que o senhor analisa essa demanda da sociedade contemporânea?

Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações)

Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações)

Ariovaldo Zani – Esse é um movimento que já existe há bastante tempo, que ganhou força e culminou com o banimento do uso dos antimicrobianos como melhoradores de desempenho em alguns países, como é o caso da Europa, por exemplo. Os Estados Unidos também criaram normas para o uso desse tipo de substância na indústria animal, mas por determinação voluntária, não por lei. Essa é uma exigência dos consumidores atuais e um tema, deveras, complexo. Não há, por exemplo, nenhum estudo científico que comprove a relação entre o uso de antibióticos na alimentação animal e o desenvolvimento de resistência bacteriana em humanos. Não existe esse nexo causal e, portanto, essa relação ainda é uma suposição.

A atitude tomada pelos países europeus baseia-se no princípio da precaução e não no da Ciência. Talvez a indústria não esteja conseguindo se comunicar adequadamente com a sociedade, por mais que a Ciência esteja a seu favor. As informações fornecidas pela indústria, mesmo que respaldadas por evidências empíricas e científicas, não têm sido capazes de sensibilizar e convencer o consumidor contemporâneo.

O grande problema é que o banimento dos antimicrobianos da produção animal vai gerar aumento nos custos de produção de carne e, em última instância, no preço final dos alimentos. Ao mesmo tempo a crise alimentar é uma das maiores ameaças do mundo moderno. A necessidade de retirar uma ferramenta de comprovada eficácia para a produtividade na avicultura e suinocultura – os antimicrobianos – num cenário de aumento da demanda por proteína animal, por conta do crescimento populacional, nos coloca diante de um dilema razoável. Já sob o ponto de vista da produção animal, a grande preocupação é desenvolver modelos alternativos ou complementares que possam contribuir para o uso racional dos antibióticos na produção animal sem perda de produtividade. Em todo caso, a opinião pública é que determina a maneira como os alimentos são produzidos e a cadeia produtiva de proteína animal vem se preparando para isso.

AviNews – Qual a visão sobre o assunto tem as principais entidades do setor, como OIE, OMS e Codex Alimentarius? O que elas falam a respeito desse tema? As visões são conflitantes?

Ariovaldo Zani – Não, ao contrário, as visões são complementares. Existe uma coalizão, que não é recente, da qual fazem parte o Codex Alimentarius, a OIE e a OMS, batizada de “One Health, One World”, ou seja, “Saúde única”, um conceito que remete à interdependência entre a saúde humana, dos demais seres vivos e do meio ambiente. O Plano de Ação Global sobre Resistência aos Antimicrobianos tem como objetivo central desenvolver ações para combater a resistência antimicrobiana. Entre elas está a elaboração de normas e diretrizes para facilitar, entre seus países membros, o emprego de métodos que permitam determinar o risco de surgimento ou propagação da resistência e a promoção do uso racional dos antimicrobianos na produção animal, na agricultura e na saúde humana. Essa iniciativa da OIE, OMS e Codex Alimentarius é compartilhada pelas associações de classe e entidades representativas do Brasil. Isso inclui o Sindirações, o Sindan, a ABPA, ABIEC, ASSOCON, enfim, todas as entidades da cadeia pecuária. É importante ressaltar, no entanto, que a resistência aos antibióticos é resultado de um sistema complexo de fatores interconectados e ainda não há entendimento de como fatores individuais contribuem para este fenômeno.

AviNews – O que o senhor quer dizer é que a resistência aos antibióticos pode ser causada por outras variáveis que não apenas a administração desse tipo de substância na produção animal…

Ariovaldo Zani – Sim, a resistência bacteriana pode ter várias gêneses. Entre elas está a automedicação do ser humano, a prescrição exagerada de antibióticos por parte dos médicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 1/3 das prescrições de antibióticos aos seres humanos são desnecessárias. Há ainda as condições de saneamento básico, ou seja, a descarga de resíduos em esgotos que acabam alcançando lençóis freáticos. Enfim, são vários os fatores que podem provocar resistência bacteriana. A cadeia de produção de proteína animal é uma das hipóteses.

AviNews – Na opinião do senhor, que tipo de implicações o eventual banimento dos antimicrobianos pode impor aos setores brasileiros de aves e suínos?

Ariovaldo Zani – O principal impacto é o econômico porque a produtividade será afetada. Vai haver incremento dos custos de produção. Pelo menos em curto e médio prazo. Diferentes estudos demonstram que, no curto prazo, nos países que sacaram os antibióticos houve aumento bilionário na produção de aves e suínos.

AviNews – O exemplo da Dinamarca é comumente usado para demostrar que é possível produzir aves e suínos livres de antibióticos e sem prejuízo dos índices zootécnicos. Depois de uma fase de adaptação, os produtores dinamarqueses parecem ter conseguido recuperar a produtividade, registrando índices semelhantes aos que tinham quando utilizavam antibióticos.

O filme é bonito, mas o caminho é longo, afirma Ariovaldo Zani

O filme é bonito, mas o caminho é longo, afirma Ariovaldo Zani

Ariovaldo Zani – Sim, mas os investimentos feitos na Dinamarca, em biosseguridade, instalações, equipamentos, ambiência, capacitação de mão de obra, foram vultosos, multimilionários. É evidente que mediante todas essas melhorias os animais vão contrair menos doenças, vão ser menos desafiados e, portanto, o uso de antibióticos é mitigado ao extremo. Agora, esse não é o retrato, a fotografia, que o Brasil tem hoje. O filme é bonito, mas o caminho é longo. Em algum momento vamos chegar lá. Por isso, a substituição e até eliminação dos antibióticos tem que ser feita de maneira gradual, paulatina, no Brasil.

AviNews – E como o Brasil vem se preparando para lidar com essa realidade?

Ariovaldo Zani – No Brasil, o Ministério da Agricultura e o Ministério da Saúde, conjuntamente, criaram o Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos. Ambos os ministérios fazem o monitoramento do uso de antibióticos no País; o ministério da Agricultura faz o acompanhamento do uso na produção animal e o ministério da Saúde na questão humana. Esse plano está alinhado ao Plano Global sobre Resistência aos Antimicrobianos, que outros países também desenvolvem. O trabalho desse grupo é mapear a quantidade de antibióticos que é utilizado no País, tanto na produção animal quanto na prática humana. Esse mapeamento vai gerar um inventário do uso desses antibióticos no Brasil. Esse é o primeiro passo.

O setor privado tem contribuído decisivamente com essa iniciativa. Ter esse conhecimento é uma obrigação de todos os países no plano global. Esse grupo tem atuado ainda para promover o conhecimento e a compreensão sobre o tema através de campanhas de comunicação, educação e treinamento e também através do fortalecimento de incentivo à pesquisa e desenvolvimento de novos agentes antimicrobianos, ferramentas de diagnóstico, análise de risco quantitativo e prevenção de doenças. É um trabalho muito dinâmico e de máxima importância.

AviNews – O senhor acredita que o Brasil vai desenvolver uma legislação específica a respeito do uso de antimicrobianos como melhoradores de desempenho na produção animal? Isso deve acontecer no curto prazo?

Ariovaldo Zani – Difícil responder essa pergunta e difícil, inclusive, prognosticar a linha que o governo brasileiro pode adotar nesse sentido. Se uma orientação mais radical, como a da União Europeia, que regulamentou e proibiu o uso através da legislação, ou adoção de uma postura como a dos Estados Unidos, através da publicação de guias orientativos, cuja adesão será de caráter voluntário. Historicamente, o Ministério da Agricultura costuma enviesar para as iniciativas europeias. Temos trabalhado junto com o setor público. E qualquer ação, seja para a construção de guias orientativos de adesão voluntária ou de uma regulamentação propriamente dita, só se dará após a conclusão do inventário sobre o uso de antibióticos que está sendo realizada no âmbito do Plano de Ação Nacional para Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos, dentre outras ações.

AviNews – A avicultura e a suinocultura brasileiras estão preparadas para produzir seus animais sem o auxílio dos antimicrobianos?

Ariovaldo Zani – Ainda não estão. Por isso essa redução tem que ser gradativa, permitindo condições para que as empresas possam melhorar as condições de biossegurança dos animais. Tem que ser uma ação combinada, coordenada. A diminuição do uso dos antibióticos tem que ser acompanhada de investimentos em instalações, equipamentos, biossegurança, capacitação da mão de obra. Como foi feito, aliás, na União Europeia. Por lá as coisas se encaminharam dessa forma. Nada foi feito do dia para a noite.

AviNews – Na opinião do senhor, quais os principais desafios para os produtores brasileiros têm para reduzir o uso de antimicrobianos na sua produção?

Ariovaldo Zani – O principal entrave é o financeiro. O grande desafio é encontrar recursos para, gradativamente, investir na melhoria da infraestrutura das granjas, investir em sanidade e outros fatores que permitam reduzir o uso dos antimicrobianos sem prejuízo da produtividade.

AviNews – Os setores de aves e suínos já contam com estratégias nutricionais que podem auxiliar na redução do uso de antimicrobianos. Elas são eficazes?

Ariovaldo Zani – A indústria de alimentação animal já tem desenvolvido uma série de alternativas e/ou produtos complementares, como probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos, vacinas, herbais, para a melhoria do desempenho zootécnico. O uso dessas novas tecnologias tem sido crescente. Alguns resultados ainda são inconsistentes, mas outros bastante convincentes. Já há estudos que demostram que a combinação de alguns produtos alternativos, ou mesmo o seu uso individual, têm substituído a contento os melhoradores de desempenho tradicionais, os antibióticos. E o que temos percebido também é que com a massificação do uso desses produtos alternativos, o custo dessas novas tecnologias tem caído. Isso demostra que a indústria tem conseguido se adaptar a essa nova realidade com certa desenvoltura.

Escrito por Priscila Beck | Direto de São Paulo

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