Listando riscos e antecipando tendências, vários observadores vem ranqueando a crise alimentar como um dos principais fatores geradores de profunda Instabilidade social. O paradoxo que vai da finitude dos recursos desse planeta à população global que vai somar mais 2,5 bilhões de habitantes até 2050 e da fome que vai continuar afligindo a cifra de bilhão de desafortunados e sua coexistência com uma geração dos “millennials “ou protagonistas da restauradora e regenerativa economia circular, estimula a reflexão sobre as intersecções ou abismo entre as soluções da ciência e a percepção da sociedade.
Tentar explicar porque o acesso à determinadas informações não é suficiente mesmo quando absolutamente baseado em evidências empíricas – evidencia que o consumidor contemporâneo precisa estar predisposto à um determinado tipo de pensamento para aceitar o argumento científico.
Um bom exemplo que se ajusta ao tema é a insistência de alguns em atribuir o aumento da resistência bacteriana exclusivamente ao uso de antibióticos utilizados na cadeia de produção de proteína animal.
Genes e bactérias resistentes e resíduos de antibióticos podem serem encontrados não só nos seres humanos e animais, mas também no melo ambiente, principalmente por conta da descarga de fezes e urina dos indivíduos (seres humanos e animais) que fizeram uso deles, do descarte não apropriado do lixo hospitalar e até do vazamento dos esgotos das fábricas produtoras dessas moléculas que podem fluir e contaminar o solo e as águas subterrâneas.
Nem todos os resíduos sofrem degradação e alguns resistem ao tratamento nas lagoas de processamento e efluentes e até quando utilizados na produção de organismos aquáticos, os antibióticos dispersos na água podem ser depositados em sedimentos e concentrar-se nos estuários, já que consideráveis concentrações detectadas na China, reforçam a tese que viveiros de peixes podem servir como reservatórios.
A resistência bacteriana também tem sido atribuída ao emprego de antibióticos na agricultura, por conta do achado de bactérias resistentes em fazendas e em águas superficiais próximas. Contudo, é importante salientar que bactérias resistentes ocorrem naturalmente no ambiente e muitas delas já coexistiam, antes mesmo da humanidade descobrir que os antibióticos eram capazes de debelar as Infecções.
Resumidamente, as pessoas podem entrar em contato com bactérias resistentes pela ingestão de alimentos e água contaminados, ou através do contato com animais ou outros seres humanos, sendo que as fontes delas incluem hospitais, áreas de águas residuais, plantas produtoras de fármacos, instalações agropecuárias e aquicultura.
O desafio global para mitigação dos efeitos danosos dos genes resistentes deve ser enfrentado prioritariamente a fim de garantir a saúde humana, enquanto a abordagem predominante que vai de encontro a esse objetivo, é a melhoria constante do saneamento. Assim como os seres humanos, os animais consomem antibióticos para tratamento de enfermidades infecciosas e restabelecimento do seu merecido bem-estar.
Até meados desse século, a crescente demanda por proteína de origem animal dependerá quase que exclusivamente da produtividade, incrementada pela mobilização intensiva de tecnologia, alinhada à contenção do fenômeno do aquecimento global e do compromisso em não ampliar as áreas de produção agropecuária, exceto as pastagens degradadas que também dependem da tecnologia para correção da qualidade dos solos.
Os antibióticos em medicina veterinária, vêm sendo utilizados há décadas para combater eficazmente infecções e melhorar o desempenho zootécnico dos animais de produção. A fim de mitigar o fenômeno da pressão seletiva que naturalmente favorece o desenvolvimento de bactérias resistentes nos animais, os produtores e médicos veterinários administram esses agentes antimicrobianos de acordo com os protocolos modulados pela análise do risco quantitativo.
Certamente pela importância e ainda insubstituíveis, os antibióticos tornaram-se centro de opiniões polêmicas de desdobramentos distintos, multo embora até a Agência Sanitária do Reino Unido tenha declarado recentemente: “a resistência antimicrobiana enfrentada pela humanidade é primariamente resultado do uso dos antibióticos nas pessoas, mais do que seu uso em animais”.
A questionável campanha que abusa de contraditória legitimidade e insiste inculcar que uso “RACIONAL” significa usar “MENOS”, bem sucedeu quando mirou diversas agências reguladoras mundo afora, multo embora e contrariamente, o adjetivo atribuído remetente à razão e não ao racionamento, ou seja,”RACIONAI”, nesse caso, não deve significar usar menos (sob precaução), mas sim facultar ao juízo (sob preceito científico).
Outrossim, a responsabilidade no uso dos antibióticos deveria pautar-se assim: “as little as possible, as much as necessary”.
Autor: Ariovaldo Zani,Médico veterinário,Vice-Presidente Executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal, Diretor da Divisão Insumos do Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo,Diretor do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, Professor MBA Agronegócio da USP/ESALQ/PECEGE, Membro do Conselho Consultivo do SESl/SENAI.