A desvalorização da moeda local, ansiosamente aguardada pelos exportadores, praticamente se consolidou e serve para revigorar a competitividade da pauta exportadora nacional. Essa mesma trajetória descendente, por sua vez, pode afetar o balanço financeiro dos produtores locais que eventualmente atrelaram suas dívidas ao dólar americano, por causa do impacto resultante da conversão ao câmbio atualmente vigente.
Apesar das medidas anti-cíclicas propostas pelo Governo Central, da queda da SELIC, da diminuição acentuada das taxas de juros dos bancos públicos, da pressão sobre os agentes financeiros privados para alívio do spread e da desoneração da folha de pagamento, muitos empreendedores continuam queixosos diante da dificuldade em encontrar crédito disponível para financiamento do seu capital de giro. Além disso, desde a escalada da moeda americana, muitas companhias receosas não tem arriscado buscar fontes externas por causa do crescente temor ao risco.
Esse cenário financeiro contemporâneo revela-se desafiador aos empreendedores da cadeia produtiva das carnes que pelejam há tempo diante dos efeitos perniciosos e simultâneo do tripé: produtos com preços demasiadamente desvalorizados, capacidade de exportação enfraquecida e principalmente custo operacional inflacionado.
Um dos principais insumos da produção Brasileira, a tarifa de eletricidade é muito mais cara por aqui do que em dezenas de outros países pesquisados pela Agência Internacional de Energia. Dados colhidos em 2011 pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro revelaram que a carga tributária incidente sobre a energia elétrica é de 31,5%, enquanto na China alcança 4,8% e na Alemanha e México é zero.
O milho e o farelo de soja, que constituem 90% da alimentação de aves e suínos, além de compor quase a totalidade dos concentrados oferecidos ao gado de corte e leiteiro, apresentam-se ainda um tanto refratários aos efeitos da crise global e seus preços posicionados muito acima das médias históricas e adequadas ao ritmo que a cadeia produtiva estava submetida. O preço da oleaginosa já acumulava 40% de aumento desde abril do ano passado e em Janeiro desse ano o cereal era vendido 70% mais caro do que em julho de 2010.
Além disso, a avicultura e a suinocultura empregam mão-de-obra intensiva, cujas negociações salariais, embora não indexadas, sofrem razoável influência do salário mínimo em vigor, que no início desse ano foi reajustado em 14,1 %. Curiosamente ambas as atividades ainda não foram contempladas no programa Federal de desoneração da folha de pagamentos em troca de alíquota sobre a receita bruta, apesar da geração de quase 2 milhões de empregos diretos.
Já o enfraquecimento do vigor exportador, por conta dos intermitentes embargos e da moeda de troca internacional que vinha desvalorizada desde a crise de 2008, resultou em pífio avanço de 3% nos embarques de carne de aves e recuo de 12% nas expedições de carne bovina, além do retrocesso de 5% no caso da carne suína em 2011. O excedente então despejado no mercado doméstico foi capaz de pressionar o preço pago ao produtor que indefeso acompanhou a evaporação da rentabilidade, ainda no vermelho em 2012.
Essas múltiplas razões impactaram e continuam impactando a atividade pecuária brasileira, responsável por 18% das exportações do agronegócio e provedora de 6,5% do PIB nacional.
O reconhecimento das fragilidades é oportuno porque os efeitos da reorganização macroeconômica e contexto conjuntural local já são visíveis, por conta do recrudescimento da inadimplência e incremento nos pedidos de recuperação judicial que podem contagiar toda a cadeia produtiva.
Ariovaldo Zani é médico veterinário
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