“Com aumento nos custos e comprometimento da exportação de carnes, produção de alimento animal cresce menos do que em 2011”
Apesar das estimativas de aumento na produção, a indústria de nutrição animal deve crescer menos do que o esperado em 2012. Neste ano, a previsão do setor é que haja um avanço de 2,8% na fabricação de ração, que deve somar 66,2 milhões de toneladas. No ano passado, o crescimento foi quase o dobro do projetado para 2012.
Além de enfrentar queda no consumo de carne suínas – provocado por restrições à entrada do produto brasileiro em seus principais mercados e pela valorização do real – os custos de produção das fábricas de ração estão mais altos do que no ano passado. Isso porque soja e milho tiveram valorização de mais de 30% no mercado internacional e também no doméstico. Os dois grãos são a principal matéria-prima da ração animal.
“Entre junho de 2010 e março deste ano os custos de alimentação de suínos subiram 28 pontos percentuais, e para aves subiram 35 pontos”, explica Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
Mesmo diante da possibilidade de queda nos preços do cereal, a indústria de ração mostra que está longe de absorver o excedente de produção do grão esperado para este ano. Responsáveis por consumir a maior parte da colheita de soja e milho do país, as fábricas de ração devem aumentar em no máximo 1 milhão de toneladas a demandas por cada um desses produtos, conforme cálculo do Sindirações. Em 2011, o setor consumiu 12 milhões de toneladas de soja e 37 milhões de toneladas de milho
Uma alternativa para reduzir os preços das rações seria a alteração de sua composição. Em média, a proporção adotada é de 60% de milho e 20% de farelo de soja, com o complemento de outros insumos. De acordo com Irineu Dantes Peron, gerente de produção animal da Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), o milho é adicionado à mistura para ser fonte de energia, enquanto o farelo de soja fornece proteínas. Sendo assim, a mudança geraria um desequilíbrio na nutrição do animal. “E mesmo se fosse possível alterar em grande escala, dificilmente haveria equalização dos preços, pois o aumento do preço soja [que subiu cerca de R$ 10 por saca no último ano] ainda não compensa a redução do valor do milho”, lembra ele.
A Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) não acredita que haverá excesso de milho no Brasil, ao contrário do que diz a maioria dos analistas de mercado. Para o presidente da entidade, Alysson Paolinelli, a pecuária vai consumir parte do milho excedente e o restante será enviado ao mercado externo. “O que não for consumido internamente deverá ser exportado, portanto não haverá sobras”, diz o executivo.
“A infraestrutura estava sendo usada prioritariamente para a exportação de soja, mas há condições de exportar essa oferta adicional de milho sem problemas”, acrescenta Robson Mafioletti, assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Há quem diga, porém, que o Brasil precisa exportar mais de 10 milhões de toneladas de milho. Se esse excedente não for escoado, o preço no Brasil pode se desvalorizar mais do que no mercado internacional. “Tem muita coisa para acontecer e em pouco. Com milho barato, os Estados Unidos devem recuperar sua participação nas exportações”, avalia Steve Cachia, da Cerealpar.
Produto contém mais farelo de amendoim
Sem estoque próprio de soja e diante da baixa disponibilidade no mercado, muitas cooperativas têm reduzido a parcela do grão na composição das rações. O desafio ainda é inserir outros ingredientes sem comprometer a nutrição dos animais. De acordo com Jeferson Caus, gerente de Rações da Cooperativa Agrária em Entre Rios, no Centro-Sul do estado, a mudança faz com que a alta nos preços seja menos expressiva. “O preço da ração já aumentou, mas não tanto quanto aumentaria se continuássemos usando apenas a soja”, explica.
Caus comenta que a cooperativa deve aumentar a produção de ração para este ano, saltando de 165 mil toneladas para 180 mil. Cerca de 70% desse volume é direcionado para a produção bovino leiteira e outros 20% para o gado de corte. A composição do produto mudou e a soja, que representa um quinto da ração, está sendo substituída entre 5% e 10% por outras matérias-primas. “Não se pode substituir totalmente a soja por milho, pois ela é uma fonte proteica. Então estamos usando farelo de algodão e de amendoim”, diz.
Encarando o mesmo cenário, a Cooperativa Lar, de Medianeira, Oeste do estado, também diminuiu a proporção de soja, que normalmente corresponde a 30% da ração. Segundo Letícia Lorençon, nutricionista da fábrica da Lar, outras fontes proteicas como farinha animal e enzimas estão sendo utilizadas na formulação. “A produção total deve aumentar de 50 a 100 mil toneladas, podendo chegar a até 500 mil. Desse total, cerca de 65% são destinados à criação de frangos”, comenta.
A Cocamar, de Maringá, pode ser considerada uma exceção nesse cenário. De acordo com Joel Murakami, coordenador técnico de pecuária na cooperativa, como a unidade de ração começou as operações em março do ano passado, há potencial para aumentar em até 70% o total produzido. Com consumo mensal de 500 toneladas de soja e 1.000 toneladas de milho para a produção média de 1900 toneladas de ração, o uso de insumo deve ser maior, mas sem mudança nas proporções de cada ingrediente. “Temos uma boa quantidade de soja em estoque, que poderemos utilizar pelo menos até o fim do ano e sem repassar integralmente os custos aos clientes”, afirma.
Colaborou João Carlos Fadino
Fonte: Site Gazeta Do Povo – Agronegócio
Dia: 05/06/2012