Indústria mundial de rações cresce 2,5% ao ano em volume com expansão do consumo de proteína animal e indica tendência ao protagonismo brasileiro.
O mercado de nutrição animal cresceu em média 2,49% nos últimos cinco anos, em um movimento diretamente ligado ao aumento de consumo de carne por populações de nações emergentes e que terá o Brasil como protagonista. Terceiro maior produtor do mundo e maior da América Latina, o País é o único dos grandes exportadores de proteína com potencial para ampliar significativamente a oferta de carnes no longo prazo, o que exigirá maior processamento de grãos em território nacional.
Para o agricultor, é uma oportunidade de agregar valor aos grãos, para elevar a renda de produtos primários para consumo nacional, uma alternativa aos embarques ao exterior. As cooperativas paranaenses passaram a prestar mais atenção a esse mercado, com investimentos em fábricas de rações e em novas plantas de abate de animais.
Engenheiro agrônomo e analista técnico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), Maiko Zanella afirma que o processamento resulta em mais receita ao fim do ano aos agricultores. “Muitas cooperativas trabalham com integração de aves, suínos e peixes e têm investido muito nos últimos anos”, conta. Ele lembra que o produtor rural que diversifica as atividades pode entregar os grãos e receber a ração para as granjas.
Zanella cita ainda os recursos direcionados a novas plantas de abate de animais, como no caso da Frimesa, que tem em construção o maior frigorífico de suínos da América Latina, em Assis Chateaubriand, com R$ 950 milhões de investimentos previstos. Outro exemplo é a C.Vale, que aposta ainda no recebimento de peixes, em Palotina, um dos segmentos que mais tem crescido no setor. “Assim, cria uma opção para não depender apenas de grãos. Eles implantaram também uma fábrica de ração para peixes, com capacidade para 200 toneladas por dia, tudo com tecnologia suíça.”
Da mesma forma, a iniciativa privada busca arrebanhar o máximo possível de informações para antever a chance de lucrar. A média de 2,49% de alta no setor vem da Pesquisa Global de Rações 2018 da Alltech, empresa de nutrição vegetal, animal e humana, com sede nos Estados Unidos e presente em 129 países. O grupo promove o estudo a cada ano, justamente para ter um diagnóstico sobre a agricultura de forma geral e ter subsídios para investimentos.
Conforme a pesquisa feita em 144 países com 31 mil empresas, a produção mundial de rações foi de 1,07 bilhão de toneladas (t) em 2017, alta de 2,57% sobre 2016. O Brasil contribui com 69,9 milhões de t, menos apenas do que China (186,9 milhões) e EUA (173,0 milhões). O volume nacional corresponde ainda a 43% dos 160,7 milhões de t produzidos na América Latina.
O diretor comercial da Alltech do Brasil, Clodys Menacho, afirma que todo o continente registrou alta, mas o destaque mesmo foi a África. “O crescimento econômico é o principal fator. Quando a pessoa tem mais renda, ela consome proteínas, com o frango na base até chegar à bovina.“
No Brasil, o aumento foi de 2% entre 2016 e 2017, muito pela crise econômica, que prejudicou o consumo interno de carnes. De acordo com a estimativa do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal), o segmento passou de 37,8 para 38,5 milhões de t entre 2016 e 2017, alta de 1,8%. O consumo dos suínos foi de 16,4 para 16,5 milhões de t, ou 1% a mais. Já o gado foi responsável por uma alta de 4,4%, de 8,2 para 8,5 milhões.
Ainda que com volumes menores, os segmentos de pets e aquicultura contam com as altas mais representativas nos últimos anos. Ainda que a variação tenha sido menor do que a de bovinos em 2017, na esteira da crise, a produção de alimentos para cães e gatos aumentou 3,2%, de 2,50 para 2,58 milhões de t de 2016 para 2017. Na aquicultura, o salto foi de 7,4%, de 930 para 990 mil t no mesmo comparativo.
Menacho ressalta a dinâmica de crescimento da aquicultura no País, ainda que veja potencial para todas os tipos de proteína animal. “O Brasil é o único do mundo que pode dobrar a produção sem precisar tocar na Amazônia, porque tem muito espaço. Coisa que China e EUA não têm.”
PRODUÇÃO TENDE A SER LOCAL
O custo do frete é um dos fatores que faz com que a ração seja produzida localmente, então há pouco direcionamento ao mercado exterior do produto acabado. O Brasil é autossuficiente em macro ingredientes, como milho, farelo de soja, farinha de gordura de origem animal e minerais. Há importações, porém, de aditivos e moduladores de desempenho, sejam químicos ou de biofermentação, como aminoácidos. “O que se exporta são as rações para animas de estimação”, diz o vice-presidente executivo do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal), Ariovaldo Zani.
Ele afirma que o custo da ração sempre foi um dos fatores de competitividade do mercado de carnes do País, pela grande produção de milho e de soja. Por isso, Zani mostra otimismo com o setor no pós-crise, com expectativa de até 3% de alta na produção neste ano. “Nosso comércio internacional de carnes tende a crescer. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra que a desigualdade tem diminuído nos países compradores e os pobres passaram a ter mais recursos para comprar carne”, diz. Ele afirma que estudos mostram que o País tem potencial para suprir até 60% da demanda mundial por alimentos até 2050.
Mesmo nacionalmente, onde afirma que o consumo per capita bate os 90 quilos ao ano, ele vê chance de avanço. “Temos muita desigualdade e muitas pessoas em situação de necessidade, mas se houver uma redistribuição de renda no País, teremos um cenário muito positivo para crescer”, diz o executivo.
Para as fábricas de nutrição, no entanto, ele diz que o crescimento não se dará necessariamente em volume, mas em qualidade. “Há dez anos fazíamos estimativas de que chegaríamos a produzir 82 milhões de toneladas em 2020, mas refizemos os cálculos para 75 milhões. E não é por queda de demanda, mas porque a maior eficiência tecnológica permite saltos de produtividade”, conta Zani. Ele cita que, para chegar ao mesmo peso, uma ave consome hoje 1,7 kg de ração ante 2 kg há uma década.
Fábio Galiotto
Reportagem Local