No ano passado o brasileiro empobreceu, por conta da aceleração da inflação e também por causa do PIB per capita que retrocedeu 0,7%. A pontuação incrivelmente baixa da renda gerada, ou quase nada acima de zero (riqueza da nação avançou apenas 0,1% e somou R$ 5,52 trilhões, de acordo com IBGE), não conseguiu acompanhar o ritmo de crescimento da população.
À título de comparação, a variação do PIB na China foi de 7,4%, na Índia de 7,2%, nos Estados Unidos de 2,4%, no México de 2,1% e na Alemanha de 1,6% (segundo Austin Ratings).
Por outro lado, apesar da queda da receita, consequente à redução da cotação das commodities agrícolas, o agronegócio (renda gerada de R$ 1,18 trilhão, conforme metodologia cálculo/CEPEA) adicionou aproximadamente R$ 21,00 a cada R$ 100,00 agregados ao PIB total (R$ 5,52 trilhões, nova metodologia de cálculo das Contas Nacionais/IBGE) e somou 43% (U$ 97 bilhões, Secretaria de Relações Internacionais/MAPA) das exportações totais (U$ 225 bilhões, SECEX/MDIC), servindo, sobretudo, como amortecedor do tombo da balança comercial brasileira (déficit de U$ 4 bilhões, SECEX/MDIC).
O Produto Interno Bruto do agronegócio é modulado pelo efeito aditivo resultante das atividades interdependentes, que em 2014, segundo o CEPEA/USP, contribuíram assim: INSUMOS (rações, medicamentos, fertilizantes, defensivos, combustíveis, etc.) com R$ 138 bilhões/avanço de 2,12%, AGROPECUÁRIA/BÁSICOS (milho, soja, café, cana, bois, frangos, suínos, leite, ovos etc.) com R$ 348 bilhões/avanço de 3,73%, AGROINDÚSTRIA (abatedouros, laticínios, açúcar, etanol, celulose, etc.) com R$ 327 bilhões/recuo de 0,32% e finalmente a DISTRIBUIÇÃO que somou R$ 366 bilhões/avanço de 1,14%.
O raciocínio aritmético demonstra que, no ano passado, o movimento “dentro da porteira”, ou seja, o vetor AGROPECUÁRIA/BÁSICOS (agricultura = R$ 189 bilhões + pecuária = R$ 159 bilhões) representou 6,3% do PIB nacional, embora o vigoroso desempenho tenha contado com apenas R$ 141 milhões gastos pelo Governo em segurança da sanidade (R$ 114 milhões, entre 2008 e 2012 e R$ 120 milhões em 2013, Ministério do Planejamento e Orçamento e Gestão).
Nos últimos quinze anos, o PIB da AGROPECUÁRIA/BÁSICOS quase dobrou (R$ 180 bilhões/1994 e R$ 348 bilhões/2014, CEPEA), enquanto na década de 2000 a 2010, o dispêndio público com o binômio “Agricultura e Organização Agrária” tenha crescido 4%, em média, e a carga tributária subido 6,6% a cada ano (Regazzini e Bacha, 2012).
A insistência do Estado Brasileiro em financiar suas operações através do endividamento público e da tributação crescente diminuem a rentabilidade, comprometem a competitividade e a produtividade da atividade AGROPECUÁRIA, além de outros setores.
É o caso da indústria de alimentação animal (com negócios contabilizados no vetor INSUMOS), cuja atividade recolheu em 2014 quase R$ 900 milhões em PIS/COFINS incidentes sobre o valor adicionado nas transações com macro e microingredientes, rações, pré-misturas e suplementos para bovinos de leite e corte, aquicultura e outras espécies de animais de produção (MB Agro, 2015).
É evidente que as distintas transformações ocorridas na sociedade e no modo de produção, com modernas técnicas e gerenciamento, aliadas ao crescimento econômico e ao papel estratégico que o Brasil tem adquirido no contexto mundial de produção de alimentos e bioenergia, vem provocando grandes mudanças na população e na ocupação no meio rural do país. Apesar da diminuição da ocupação, tanto no assalariamento quanto nas demais formas de inserção, a atividade AGROPECUÁRIA continua um dos setores que mais empregam mão de obra na economia brasileira.
O Agronegócio deve avançar mais uma vez e poderá crescer mais de 2% em 2015, alavancado principalmente pelos bons preços praticados pela pecuária, embora a previsão do Banco Central para o PIB brasileiro é de recuo de 0,83% (relatório Focus de 20/03/15), ou retrocesso de 1% (segundo analistas de mercado), antevendo a continuada recessão da indústria de transformação e a queda no consumo das famílias, frente ao mergulho dos investimentos, desemprego crescente e ao aperto do crédito.
Por Ariovaldo Zani
Com a colaboração de Gabriel Zani/FFLCH/USP