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Por que hoje é difícil produzir sem antibióticos?

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Vice-Presidente do Sindirações, Ariovaldo Zani: Não há nenhuma evidência científica de resistência bacteriana em humanos causada pela ingestão de carne de animais que receberam melhoradores de desempenho

As pesquisas pelos substitutos avançam, mas a produção sem eles ainda parece improvável

A tecnologia revolucionou a produção intensiva de animais. Os sistemas atuais em nada se parecem com o que se via há décadas. Aumentou a produtividade, mas também a qualidade dos produtos e de vida dos trabalhadores do campo. Uma das estrelas dessa revolução são os melhoradores de desempenho – leia-se aqui os antibióticos enquanto promotores de crescimento. Assim, a simples cogitação de retirá-los das dietas animais, especialmente suínos e aves, deixa todos em polvorosa. Apesar de haver várias pesquisas sérias, e ao que tudo indica viáveis, de produtos para substituí-los, o assunto ainda é polêmico e gera muitas discussões.

O Presente Rural ouviu o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), o médico veterinário Ariovaldo Zani, cuja opinião é de que o Brasil não está preparado para a total retirada dos antibióticos da nutrição animal e, se assim fizesse, atualmente estaria fadado ao mesmo fim de países da Europa, cuja crise do setor agropecuário foi impossível de ser impedida. Confira.

O Presente Rural – O Brasil está preparado para a total retirada dos antibióticos das dietas animais?

Ariovaldo Zani – De jeito nenhum. Por ser um dos maiores produtores de carne do mundo, o Brasil tem uma grande responsabilidade para suprir o mercado interno e outros países (é o maior exportador de carne bovina e de aves, bem como o 4º maior de carne suína). A alta produtividade brasileira é alcançada devido à tecnologia empregada e os melhoradores de desempenho têm importância fundamental relacionada ao desempenho produtivo e ao custo dos produtos.

OP – Cientificamente, há comprovação de que os antimicrobianos utilizados como promotores de crescimento na criação animal interferem na resistência aos antibióticos pelos humanos que consomem essa proteína?

– Na Europa, em alguns países, algumas moléculas foram retiradas por precaução. Mas, não há nenhuma evidência científica de resistência bacteriana em humanos causada pela ingestão de carne de animais que receberam melhoradores de desempenho. Vez ou outra, uma iniciativa aqui, outra acolá teima emplacar o princípio da precaução, cuja motivação ideológica reside na tentativa de correlacionar exclusivamente os antimicrobianos empregados na alimentação animal à hipotética resistência bacteriana. Por outro lado, há estudos demonstrando que a recuperação de pessoas não alimentadas por carne de animais que receberam melhoradores de desempenho na sua nutrição, é mais demorada do que daquelas que consumiram. É importante esclarecer que bactérias consideradas resistentes aos antibióticos e que representam perigo potencial e que estas já foram verificadas em criações e culturas tidas como naturais ou orgânicas.

OP –  Qual o maior reflexo da retirada dos antibióticos enquanto promotores de crescimento?

AZ – Primeiro é a perda de produtividade e o aumento dos custos de produção.  E esses custos vão ser repassados, refletindo na mesa do consumidor. O prejuízo de ordem financeira é inevitável por conta da substituição, já que o animal vai ficar mais vulnerável ao dia a dia da criação intensiva. Eles provavelmente ficarão mais doentes e precisarão ser tratados terapeuticamente e, então, a dose de medicamentos deverá ser maior, além de haver desuniformidade dos lotes. Nos países onde as moléculas foram retiradas, houve queda demasiada de produção, ocasionando prejuízos não apenas ao setor, mas à economia.

OP – Essa desuniformidade não inviabilizaria o atual sistema de produção intensiva, como no caso de suínos?

AZ – Quando falamos do reflexo no Brasil, estamos falando de alojamento de mais de 6 bilhões de frangos, de mais de 30 milhões de suínos e tantos quantos outros animais de produção, cuja cadeia tem padrão e é desenhada para criar, industrializar e exportar. Se termos lotes desiguais, vai dificultar absurdamente o trabalho dentro da cadeia, desde à questão dos equipamentos até o manejo. Alguns vão ficar prontos para o abate antes que outros, enquanto isso novos lotes precisam entrar na propriedade… A dinâmica da cadeia será quebrada, o que causa muitos problemas.

OP – Na linha de raciocínio que sugere a retirada dos antibióticos como promotores de crescimento, o uso das moléculas para fins terapêuticos não provocariam as mesmas consequências?

AZ – O princípio da razoabilidade fica comprometido porque então não deveria utilizar essas moléculas nem para fins terapêuticos. Além disso, há estudos que apontam que a redução como promotores poderia ocasionar na necessidade de sua maior utilização posterior no tratamento. Sabemos que a descoberta dos antibióticos salvou muitas vidas e é um produto importante hoje na clínica, seja médica ou veterinária. O que ninguém discorda é da modulação por uso racional desses produtos.

OP – Nas possibilidades já apontadas, já existem substitutos à altura para os antibióticos enquanto promotores de crescimento? 

AZ  – Há várias alternativas válidas, mas que não colecionam todos os atributos das moléculas de antibióticos. É importante ter alternativas em escala comercial, porém a grande dificuldade é atender a demanda, inclusive do ponto de vista de viabilidade econômica. O Sindirações optou por não estimular uma ou outra alternativa por “precaução”. Temos o compromisso com a segurança alimentar.

OP – Em que setor hoje seria maior o reflexo da possível substituição (avicultura, suinocultura, bovinos…)?

AZ – Depende. Todos são muito dependentes hoje dessa solução tecnológica. Mas, a suinocultura, por exemplo, hoje passa por uma crise grave, que poderia ser ainda maior. Acredito que a suinocultura e a avicultura seriam as mais afetadas.

OP – Quem será o mais afetado numa possível mudança? Como fica a indústria de rações?

AZ – É curioso. Para a indústria seria uma mudança de fácil assimilação, mudando as formulações para preparação das rações. Haverá reflexo em questão de custos, de mudanças de fornecedores… Direta ou indiretamente todos do setor podem ser prejudicados, mas indiscutivelmente será o produtor rural que sofrerá as maiores consequências, nas dificuldades de manejo, devido à desuniformidade do lote, que pode provocar queda no valor do seu produto, comprometendo a sustentabilidade dos empreendimentos. Mas numa reação em cadeia, todos os elos podem ser afetados. Isto foi o que aconteceu em alguns países da Europa, que de produtores de carne se tornaram grandes importadores.

Fonte: Jornal O Presente Rural
Data: 25.05.2012

 

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