“A indústria de alimentação animal continua confrontada pelos desafios contemporâneos e seu índice de sucesso responde proporcionalmente às iniciativas do setor público.”
O setor de nutrição para cães e gatos representa 3% da produção total de ração no Brasil, que em 2012 alcançou 63 milhões de toneladas. No ano passado, a produção neste mercado cresceu aproximadamente 5% (um aumento de 2,3 milhões de toneladas), impulsionada pela classe média emergente que já representa mais da metade da população brasileira.
Encarando a emergência da nova classe média brasileira e seu potencial de consumo, a recuperação dos empregos nos Estados Unidos, o redirecionamento dos investimentos para o mercado doméstico na China e depositando muito otimismo na interrupção do caos econômico na União Europeia, é possível que a indústria brasileira de alimentação para animais de estimação seja capaz de crescer algo em torno de 5% em 2013.
O vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, em entrevista à Revista Pet Food Brasil traça um raio X atual do setor. Confira!
Revista Pet Food Brasil – O que podemos esperar do mercado brasileiro de rações em 2013? E, em especial para o setor pet food? A que se deve tais expectativas?
Ariovaldo Zani – Encarando a emergência da nova classe média brasileira e seu potencial de consumo, a recuperação dos empregos nos Estados Unidos, o redirecionamento dos investimentos para o mercado doméstico na China e depositando muito otimismo na interrupção do caos econômico na União Europeia, é possível que a indústria de alimentação de cães e gatos brasileira seja capaz de crescer algo em torno de 5% em 2013.
A indústria de alimentação animal em geral continua confrontada pelos desafios contemporâneos e seu índice de sucesso responde proporcionalmente às iniciativas do setor público frente à complexa e pesada carga tributária, escassez de financiamento para capital de giro, incapacidade de armazenamento das safras e infraestrutura logística, dependência extrema dos aditivos da química fina, restrição ao uso de tecnologia e burocracia na implementação da inovação.
Revista Pet Food Brasil – O quanto o setor de rações movimentou em 2012?
Ariovaldo Zani – A produção de alimentos para cães e gatos cresceu, aproximadamente, 5% em 2012, alcançando 2,3 milhões de toneladas, impulsionada pela classe média emergente que já representa mais da metade da população brasileira. Os animais de companhia são considerados membros das famílias desses proprietários que se estabeleceram no mercado de trabalho formal e tiveram sua renda aumentada, além de encontrar mais crédito ao seu alcance. Esse poder de consumo aumentado tem permitido exercitar a posse responsável através do oferecimento de alimentação industrializada, visita ao veterinário e desfrute dos serviços especializados em estética e acessórios. A quantidade de produtos para alimentação de cães e gatos representa 3% da produção total de ração no Brasil, que em 2012 alcançou 63 milhões de toneladas.
Revista Pet Food Brasil – Em linhas gerias como avalia o mercado no ano de 2012?
Ariovaldo Zani – O setor engatou a marcha à ré já no primeiro trimestre de 2012 e o recuo intensificou-se por causa da coexistência de três fatores: alto custo do farelo de soja e do milho, baixos preços pagos aos produtores e desaceleração no ritmo exportador das carnes. A descapitalização de muitos produtores independentes reduziu o rebanho de suínos ao longo do ano, além do alojamento de matrizes, pintinhos e o abate de aves que perdeu fôlego nos últimos meses do ano.
A indústria produtora de frangos de corte e suínos, juntas, demandam mais de 70% das rações produzidas no Brasil e formuladas com quase 90% da mistura de milho (subiu 40% nos primeiros 20 dias de julho por efeito da estiagem no cinturão produtor americano) e farelo de soja (mais que dobrou de preço no corrente ano em razão da forte estiagem na Argentina e Brasil).
Revista Pet Food Brasil – Quais continuam sendo os gargalos da cadeia produtiva de rações?
Ariovaldo Zani – A indústria de alimentação animal local tem se esforçado para mitigação dos desafios contemporâneos e contribuído sobremaneira para sustentabilidade da cadeia de produção de proteína animal brasileira. O índice de sucesso do setor privado, contudo, continua modulado pelas iniciativas do setor público frente à complexa e pesada carga tributária, escassez de financiamento para capital de giro, incapacidade de armazenamento das safras e infraestrutura logística, dependência extrema dos aditivos da química fina, restrição ao uso de tecnologia e burocracia na implementação da inovação, dentre outros gargalos.
Revista Pet Food Brasil – E o que poderia ser feito (ou está sendo feito) para amenizar este cenário?
Ariovaldo Zani – O Governo deveria promover desoneração de PIS/COFINS abrangente na cadeia produtiva pecuária (carnes, leite e ovos), do campo à mesa, a fim de garantir queda de preço para permanência de mais famílias na linha de consumo, além de controlar os índices inflacionários. A desoneração parcial (parte da cadeia produtiva) e/ou pontual (determinados segmentos econômicos) dificulta os controles contábeis, complicam ainda mais o já instalado caos tributário e não são capazes de repassar integralmente o alívio da carga aos preços porque ainda sobram créditos presumidos que acabam virando custo para a indústria que pode, ao contrário, causar aumento de preço.
Revista Pet Food Brasil – Sobre o nível técnico-científico dos profissionais brasileiros, qual é hoje a situação do Brasil?
Ariovaldo Zani – Há tempos as escolas vêm se esforçando na preparação dos estudantes para os desafios do mundo real, da era do conhecimento e da criatividade, binômio-referência relacionado à inovação e fator-chave na geração de riqueza. Apesar da generosa oferta de vagas pós-recessão global, o ambiente de trabalho no Brasil apresenta-se ainda bastante competitivo e disponibilizando oportunidades para a mão-de-obra qualificada, tecnicamente criativa e socialmente comprometida.
Esses recursos humanos têm sido cada vez mais cobiçados porque a geração de valor econômico não depende apenas da inovação tecnológica, mas também da organização, do modelo de gestão do negócio e da imagem percebida pela sociedade em geral. Além do mais, inovar não é responsabilidade única do pessoal técnico, mas de toda a organização, do chão de fábrica ao Conselho de Administração, seja durante os ciclos de bonança ou mesmo mergulhados em períodos críticos que parecem não ter fim.
Nossa indústria tem se antecipado e buscado nessa nova geração, candidatos bem preparados, criativos e suficientemente dispostos a integrar o time de notáveis, constituído dos experimentados e sábios recursos humanos já empregados, cujas ações verdadeiramente têm impactado positivamente o cenário contemporâneo e a continuidade delas certamente assegurará a sobrevivência e o bem-estar da humanidade.
Revista Pet Food Brasil – Falando em exportações, importações e produção interna, como foi o ano de 2012? Quais as expectativas para 2013?
Ariovaldo Zani – A indústria de alimentação animal brasileira exporta pouco, apesar de constituir-se a quarta maior produtora global, atrás apenas da China, Estados Unidos e União Europeia. As exportações envolvendo a posição tarifária – NCM 2309.90.10 – “alimentos compostos completos para animais” alcançaram U$ 27,7 milhões e 32,7 mil toneladas em 2012, enquanto as importações redundaram em U$ 15,5 milhões e 8 mil toneladas, além das exportações (U$ 24,1 milhões) e importações (U$ 2,7 milhões) de “alimentos para cães e gatos”, classificadas na posição tarifária específica – NCM 2309.10.00 conforme dados ALICEWEB/MDIC. Já a posição tarifária NCM 2309.90.90, denominada “OUTROS” (abrangente, porque engloba também insumos destinados a animais de produção sem posição específica), apura-se déficit comercial de U$ 23 milhões, por conta das exportações de U$ 115 milhões e importações de U$ 178 milhões durante o ano de 2012. É importante salientar que a indústria de alimentação animal brasileira importa mais de U$ 1 bilhão em aditivos – vitaminas, aminoácidos (exceção L-lisina), melhoradores de desempenho, enzimas etc.
Revista Pet Food Brasil – Nas questões sanitárias, como o Brasil pode ser analisado? O que ainda pode ser aprimorado? O que já conquistamos?
Ariovaldo Zani – O Brasil é um dos protagonistas na produção de alimentos e líder na exportação de proteína de origem animal, não por acaso, mas por conta das contínuas melhorias implementadas que asseguram a credibilidade dos nossos produtos pecuários, os quais alcançam mais de uma centena de destinos, além das fronteiras e tem faturado quase 15 bilhões de dólares na exportação de carne bovina, suína e de frango, além de alimentar e empregar milhões de trabalhadores e contribuir decisivamente para o superávit da balança comercial e desenvolvimento econômico local.
Um bom exemplo de melhoria eficaz foi o reforço orçamentário aplicado pelo Ministério da Agricultura, no Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes/PNCRC que recebeu investimentos em infraestrutura e capacitação das equipes, teve aumentada sua capacidade laboratorial, aprimorados os mecanismos de supervisão e controle capazes de quadruplicar o número de amostras analisadas anualmente e de monitorar mais de 200 analitos em 2012. O escopo legal do PNCRC é proteger o interesse e a saúde dos consumidores, da produção agropecuária e dos produtores, do ponto de vista da segurança química e microbiológica.
O retorno desse investimento veio através dos inspetores do Food and Veterinary Office/FVO que recentemente declararam reconhecer os progressos significantes da implementação do programa que cobre todos os grupos relevantes de substâncias requeridos pela Diretiva Europeia e que particularmente resultou em avanços no processo de preparação para acreditação e validação de métodos analíticos.
Revista Pet Food Brasil – Qual é a tendência de mercado, em termos de demanda, quando focamos no setor de nutrição animal?
Ariovaldo Zani – Considerando as potencialidades da demanda doméstica e internacional por proteína animal, as projeções para 2020 revelam a produção brasileira de aproximadamente 40 milhões de toneladas de rações para frangos de corte, 6 milhões de toneladas para poedeiras, 19 milhões de toneladas para suínos, 3 milhões de toneladas para gado de corte, 7 milhões para gado leiteiro, mais de 1 milhão de toneladas para peixes e camarões, 3,5 milhões para cães e gatos e 2 milhões para caprinos, ovinos, equinos etc, totalizando 81,5 milhões de toneladas (crescimento médio de 2,54% ao ano desde 2011). No caso dos suplementos, o crescimento médio de 8,1% ao ano poderá culminar na produção de quase 5 milhões de toneladas.
Revista Pet Food Brasil – Destaque alguns feitos do Sindirações em 2012.
Ariovaldo Zani – Atendendo solicitação de diversos associados e outros fabricantes de insumos e fabricantes de alimentos para cães e gatos, o Sindirações passou a coordenar as ações do Comitê PET – constituído de profissionais desse setor – cujas reuniões já redundaram uma série de conclusões acerca da funcionalidade dos ingredientes (aspectos regulatórios), promoção e geração de negócios (apoio institucional no Pet South America, voltado aos empreendedores do segmento) e compartilhamento de informações (colaboração e apoio voltado ao tradicional Curso Teórico/Prático sobre Nutrição de Cães e Gatos realizado pelo Prof. Dr. Aulus Carciofi na Unesp/Jaboticabal).
Além disso, o Sindirações treinou 275 profissionais da qualidade nos cursos de Boas Práticas de Fabricação, Análise de Perigos e Controle de Pontos Críticos, Uso de Medicamentos em Alimentação Animal e Programa de Qualidade em Aditivos e Pré-Misturas da União Europeia. Foram mais de 5000 horas de treinamento intensivo e dirigido à iniciativa privada e aos Fiscais do MAPA.
Revista Pet Food Brasil – Quais as prioridades, metas e objetivos do Sindirações para este ano?
Ariovaldo Zani – Continuar insistindo na desoneração de PIS/COFINS justa e abrangente sobre toda a cadeia produtiva pecuária, além de se aproximar cada vez mais da comunidade médica e outras interfaces com intuito de desmistificar a hipótese de transmissão da resistência bacteriana dos animais de produção aos seres humanos.
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