Incertezas da indústria frente ao sufrágio
A perplexidade do empresariado inserido no labirinto econômico corrente vem pautando o debate dos candidatos às próximas eleições. É flagrante observar que a capacidade da indústria brasileira continua comprometida face ao minguado avanço de produtividade da mão de obra que tem se distanciado cada vez mais do vigoroso aumento dos salários reais e, em consequência, a contração da oferta continua turbinando os preços livres de produtos e serviços que corroem o poder de compra dos consumidores.
A SITUAÇÃO e sua base aliada já reconhecem alguns fracassos no comando do país e prometem um futuro melhor à sociedade, enquanto a campanha da OPOSIÇÃO aposta no engajamento do eleitorado à sua proposta de reformismo estrutural e retomada do cumprimento do tripé macroeconômico (superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação).
Os indicadores apontam para a alta no custo do capital, valorização do dólar e incremento nas transações comerciais, combinação circunstancial, que no médio prazo, pode redundar em cenário menos conturbado que o verificado até agora. Essa possibilidade é resultado do sufrágio, contextualizado à conjuntura econômica internacional atrelada à previsão de crescimento nos Estados Unidos em 2015, à leve melhora na Eurozona apoiada na economia alemã, e à China, com ritmo menos acelerado, embora ainda bastante superior às demais economias.
A compreensão exata da política econômica, no entanto, somente poderá ser desvendada depois de vários meses da posse, pois o desdobramento dependerá da continuidade do modelo econômico calcado no voluntarismo exagerado ou alternativamente modulado por política sólida e previsível, e independentemente do presidente eleito, é provável que no curto prazo a alavanca do crescimento ainda seja apoiada no mercado doméstico e os investimentos nos recursos naturais.
Contudo, a ausência da hipotética e decisiva guinada rumo às necessárias reformas, manterá as atuais limitações ainda sustentadas na inflação e pressão fiscal, baixa competitividade e infraestrutura deficiente, inércia da produtividade e elevação do custo, ineficiência pública e regulação inadequada, insegurança jurídica e diplomacia comercial internacional extemporânea.
A projeção de crescimento do PIB brasileiro não deve superar 0,6% nesse ano, apesar da contribuição do agronegócio (até maio já avançou quase 3,5%), considerado o modelo de sucesso para gestão, inovação tecnológica e incremento da produtividade. No caso de reeleição, a perspectiva tende para queda dos ativos em bolsa de valores e para alta do dólar, enquanto que o sucesso da oposição pode determinar ingresso de mais dólares para compra de ativos baratos e valorização da moeda local.
Por sua vez, a indústria de alimentação animal, elo essencial da cadeia produtiva ainda negligenciado pela desoneração tributária, continua atendendo aos estímulos do consumo de proteína animal (doméstico e exportação), já que durante o primeiro semestre produziu 31,5 milhões de toneladas de rações, um incremento de 2,4% comparado ao mesmo período do ano passado.
Ademais, diante do potencial das safras de grãos e respectivos preços no Brasil e nos Estados Unidos combinados ao ritmo no consumo de proteína animal, é passível apostar em baixa continuada nos preços das commodities agrícolas. Torna-se oportuno atentar também para o desequilíbrio no rebanho bovino de 87 milhões de cabeças dos Estados Unidos, considerado o menor nos últimos cinquenta anos e para Austrália, cuja longa estiagem levou à redução de 40% no número de cabeças, já que esses desajustes podem gerar mais negócios externos para a pecuária bovina brasileira e valorizar ainda mais a arroba do boi gordo. No caso da suinocultura e da avicultura, as perspectivas são positivas e motivadas pela abertura de novos mercados e ampliação dos embarques (Japão, Rússia, etc.), enquanto a pecuária leiteira tende sofrer pressão nos preços por causa da diferença/spread determinada pelos competitivos exportadores tradicionais.
Parafraseando o escritor Samuel Butler: “Uma coisa é certa, que é o fato de não podermos dar nada por certo; sendo assim, não é certo que não podemos dar nada por certo”.
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