Depois da disparada de preços de feijão, arroz, leite e hortaliças, as carnes também vão pesar mais no bolso do consumidor. A principal razão é o aumento do custo do milho e da soja – matérias-primas da ração animal – que devem levar produtores a repassar o custo para o varejo.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a alta do preço nos açougues, nos próximos quatro meses, será de pelo menos 10% para as carnes bovina, suína e de frango.
Conforme previsões do ministro da agricultura, Blairo Maggi, o acréscimo no valor das carnes será inevitável no último quadrimestre do ano. Para o ministro, a inflação da pecuária está “represada” há algum tempo e é pouco provável que não haja um movimento de repasse de custos, já que os produtores estão sendo diretamente afetados com alta das commodities usadas na alimentação dos rebanhos.
A valorização do real frente ao dólar também contribui para a tendência de alta. A JBS, líder mundial na produção de carnes, informou que elevará os preços para compensar as perdas com as exportações, motivadas pela valorização cambial.
Capital
Em BH, uma pesquisa do Procon Assembleia realizada em 38 frigoríficos, na última semana, registrou aumento de 0,41% no preço médio das carnes.
Dos cortes bovinos, a fraldinha teve elevação de 2,80% em relação a julho. Das carnes suínas, a maior alta foi a da linguiça de lombo (2,10%). No caso do frango, o avanço mais expressivo foi o da linguiça de peito de frango, de 1,06%.
“O custo da ração cresceu 30%, enquanto o preço pago ao produtor só aumentou 10%” – Ariovaldo Zani – Vice-presidente executivo do Sindirações
Mercado externo
O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani, explica que a alta do milho está ligada ao recorde de exportação da commodity em 2015, motivado pela quebra da safra americana, que acabou gerando maior demanda para a produção brasileira.
“Os exportadores brasileiros enxergaram uma oportunidade melhor em exportar do que em ofertar para o mercado interno. Então houve essa dobra de preço do milho que continua em um preço abusivamente alto para as condições de pagamento dos produtores de frango e suínos. Em média, de agosto de 2015 a agosto deste ano, o preço do milho está pelo menos 50% mais caro. Em maio, aumentou mais de 100%. Isso levou a um estrangulamento na margem de lucro”, avalia.
Produtores esperam reverter prejuízos no fim do ano
As alterações climáticas causadas pelo fenômeno El Niño também prejudicaram a bovinocultura. A escassez hídrica dos últimos três anos diminuiu a oferta de pastos para os criadores de gado, que foram obrigados a manter mais animais em confinamento, sendo alimentados com rações e elevando os custos de produção.
“O preço do milho em julho, em relação ao mesmo período no ano passado, subiu 70%. No Triângulo, por exemplo, a alta já é maior” – Wallisson Fonseca – Analista de Agronegócio da Faemg
De acordo com o analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Wallisson Lara Fonseca, a baixa margem de lucratividade motivou o abatimento de matrizes, o que gerou a escassez de bezerros que hoje estariam prontos para o abate.
“Atualmente, mais de 80% dos custos de produção vêm da ração animal. No caso dos suínos, os produtores chegaram a registrar prejuízo de R$ 100 por animal abatido no primeiro semestre do ano. Esse quadro só deverá ser revertido com a chegada das festas de fim de ano e um possível aumento no consumo da carne”, explica.
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, explicou que a elevação de preços “só não aconteceu ainda porque havia uma grande oferta de frango e carne suína. Em decorrência da crise, muitas empresas fecharam e a produção caiu; agora fica mais livre o mercado para que, naturalmente, haja um realinhamento do preço”.
Nelson Flores/Editoria de Arte / N/A