Ariovaldo Zani dispensa apresentações no mercado da nutrição animal no Brasil. Há mais de 30 anos atuando no setor, hoje está à frente da entidade-referência do setor de alimentação animal do Brasil, com 150 empresas associadas.
Médico veterinário formado pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), fez MBA na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), passou pelo mundo corporativo atuando em importantes empresas como Agroceres, Mogiana Alimentos/Guabi e Basf. Atualmente é diretor do departamento de Insumos da FIESP, diretor do CBNA (Colégio Brasileiro de Nutrição Animal) e CEO do Sindirações, que reúne 150 empresas e entidades da área em todo Brasil. Para ele, em meio à pandemia, o importante é garantir a circulação de mercadoria, os insumos para fabricação e as rações prontas para alimentação dos animais.
Quais as medidas para minimizar o impacto da COVID-19 no setor de nutrição animal no país?
O cenário, repleto de incertezas, não permite planejar sequer o curto prazo. As medidas de curtíssimo prazo adotadas têm focado na garantia da circulação de mercadorias – insumos para fabricação e as rações prontas para alimentação dos animais – frente aos eventuais bloqueios logísticos municipais, além do esforço para manutenção dos processos aduaneiros, como comércio exterior de gêneros agropecuários.
Como o Sindirações se posiciona nesse momento com seus 150 associados? Quais orientações são passadas em relação às consequências do impacto econômico?
Prioritariamente temos alertado para o cuidado com o grupo de risco, ou seja, cumprem quarentena compulsória todos os colaboradores com mais de 60 anos, portadores de doenças crônicas, gestantes e lactantes, além daqueles que podem realizar suas tarefas remotamente. Quanto às orientações sobre as consequências de impacto econômico, o Sindirações tem se integrado às demais entidades representativas do agronegócio com intuito de convergir demandas de maneira transversal e, então, sugerir medidas de mitigação às autoridades dos Poderes Executivo e Legislativo, em nível federal e nos Estados da Federação. Dentre elas, a manutenção do fluxo de caixa, crédito e financiamento para garantia da produção, manutenção do emprego e abastecimento dos consumidores.
Você está satisfeito com os esforços do governo – Ministério da Agricultura – para tentar minimizar o impacto da pandemia?
Estamos muito satisfeitos com as intervenções do Ministério da Agricultura e do Ministério da Infraestrutura para garantia do trânsito das mercadorias frente aos bloqueios municipais e também na continuidade do desembaraço aduaneiro das mercadorias importadas pelo nosso setor. Contabilizamos alguns pequenos percalços no início do ano, mas rapidamente solucionados no Gabinete de Crise montado pelo Governo Federal.
Apesar da pandemia da COVID-19 e seus impactos na economia, as exportações do agronegócio brasileiro não foram afetadas negativamente. Você acha que essa situação vai durar muito tempo?
Sim, porque a China, principalmente, continua abatida pela Peste Suína Africana e demanda proteína animal – carne bovina e suína – para abastecimento do consume. E isso vem crescendo, mesmo pós pico da pandemia da Covid-19.
Diante de tantas incertezas e coma alta do dólar e a desvalorização do real a situação para o fabricante de ração ficou difícil. Preço do produto caiu e o preço dos insumos aumentaram. Como equilibrar essa conta?
Continua muito difícil planejar o curto prazo diante de tantas incertezas. A dica é que o produtor fique antenado às informações disponibilizadas pelas associações representativas que, em conjunto, têm levado às autoridades executivas, legislativas e judiciárias as demandas mais críticas de curto e médio prazo, para garantir fluxo de caixa, postergação no recolhimento dos impostos, e principalmente seguir as recomendações do Ministério da Saúde e garantir àqueles colaboradores que continuam atuando, um ambiente de trabalho mais seguro possível.
“É consenso entre os analistas que a recessão será global, o PIB vai cair e o consumidor será forçado a consumir menos proteína animal. Nesse caso, menos milho e farelo de soja serão necessários e teoricamente os preços, em dólares, devem arrefecer. Não dá para estimar agora se o recuo do preço vai compensar a desvalorização abissal da nossa moeda, o Real. De toda forma, a menor demanda de proteína animal vai redundar em menor quantidade de ração a ser produzida.”
Você conseguiria nos dizer o que essa diminuição da quantidade de ração produzida poder significar em números?
A produção de ração seguiu alinhada à estimativa durante o primeiro trimestre de 2020. A indústria de alimentação animal é modulada pelo desempenho da cadeia produtiva de proteína animal, ou seja, o alojamento/confinamento de aves, suínos e bovinos e o abate/demanda doméstica e internacional de carne bovina, suína de aves, ovos e leite, é que vai determinar o ritmo durante o ano.
Por Simone Dias, nutriNews Brasil