A correção da “inflação de oferta” e incentivo à retomada do investimento privado, são condições mandatórias para incremento da produtividade da indústria e atendimento do consumidor doméstico, além de recuperação da competitividade aos exportadores e interrupção da enxurrada de produtos importados que acabam por retroalimentar a “inflação de demanda” que tem afligido os brasileiros. Essa tão desejada retomada ao crescimento requer aborto do fracassado modelo desenvolvimentista, da política anticíclica extemporânea, dos truques contábeis, das “pedaladas” fiscais e do finado “MERCOSUL”.
Outrossim, são dignas de reverência as iniciativas do Ministério da Fazenda em seguir adiante com o devido aperto fiscal “não populista”, embora eficaz para recomposição das contas públicas (ao invés das indesejadas “equalizações” tributárias), restabelecimento da credibilidade desse contemporâneo mundo globalizado, e sobretudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior/MDIC que já ensaia caminhar em direção aos players globais de interesse.
A propósito, o “Tio Sam”/EUA vem reinduzindo o crescimento global, com sua economia em evolução, alavancada na exploração do gás/óleo de xisto, embora modulada pela iminente escalada dos juros e enxugamento da liquidez. A “velha” União Europeia de recuperação ainda duvidosa, pode ser estimulada por sua expansão monetária (1,1 trilhão de Euros) que tenta combater a deflação e a desvalorização de ativos, e continua desafiada pela “esquerda radical” grega que discorda do plano de austeridade determinado pela Troika (FMI, BCE, UE). É importante mencionar também a esperada acomodação (soft landing) da economia Chinesa, que já não cresce com tanto vigor, e do ainda estagnado Japão, ancorado ao aumento do custo de energia e impostos. Enquanto isso, a Rússia (assim como os fornecedores do Oriente Médio), padece pressionada diante do baixo preço do petróleo, do conflito geopolítico particular com a Ucrânia e dos embargos comerciais que impôs à sua própria indústria. Finalmente, a crise da bolivariana Venezuela e da nossa vizinha Argentina, ex grande parceira comercial, e a turbulência ininterrupta causada pelos massacres étnicos no Sudão do Sul, Nigéria, Somália, Congo, Líbia, Afeganistão, Síria e Israel, completam o cenário turbulento global.
Retomando ao nosso caso local, a deterioração das contas externas continua influenciada negativamente por conta de algum viés ideológico “bolivariano”, do exagerado protecionismo comercial argentino aos manufaturados brasileiros, da viciada concentração exportadora das commodities, principalmente para a China que cresce menos (estimativa de 7,4% em 2014 e previsão de 7% para 2015, conforme registra o Departamento Nacional de Estatísticas daquele país), e também por conta do déficit em transações correntes da ordem de 78,4 bilhões de dólares nesse ano corrente, conforme previsão registrada no último dia 20 pelo Boletim Focus, disponibilizado pelo Banco Central, autoridade que divulgou também o Índice de Atividade Econômica/IBC-Br de dezembro que retrocedeu 0,55% em relação à novembro, contabilizou encolhimento anual da ordem de 1,5%, e provavelmente neutralizou qualquer incremento do PIB no ano passado. A perspectiva mais recente, inclusive, é de recuo de 0,5% do PIB em 2015, embora muitos analistas independentes estejam convencidos do retrocesso de até 2%, a depender da magnitude do quase inevitável racionamento de água e eletricidade.
Finalmente, o pacote de insucessos, incluiu as isenções pontuais dos impostos (folha de pagamentos, IPI em automóveis e eletrodomésticos, etc.) que sorveram mais de R$ 100 bilhões do Tesouro, além do congelamento das tarifas dos transportes e energia, cujos preços “controlados”, segundo o IBGE, resultaram 5,7% (ante 6,7% dos preços livres).
A expectativa de mercado em relação ao conjunto dos “monitorados”, contudo, é de avanço de mais de 10% em 2015, por causa dos reajustes nos preços e da retomada da cobrança da PIS/COFINS/CIDE sobre gasolina/diesel, aumento das passagens de ônibus, novas faixas e bandeiras tarifárias da energia, e repasse da conta de desenvolvimento energético/CDE.
Os preços livres, por sua vez, devem sofrer algum alívio, porém lamentavelmente motivada pela fragilizada demanda do consumidor de defensiva, afligido pela escassez e encarecimento do crédito (SELIC 12,75% ainda em 2015 e juro real superior a 5%), maior carga de impostos em relação ao PIB (aumento de mais de 11 pontos percentuais nas últimas duas décadas), taxas e contribuições diretas e indiretas dentre os emergentes, e também por conta da eliminação dos bons empregos com carteira assinada. A expectativa é que a inflação/IPCA medida em 2015 alcance 7,33% (Boletim Focus/Relatório de Mercado, 20/02/2015), bem acima da banda superior de variação da meta compromissada que continua em 4,5%.
Conforme listado, a deterioração dos indicadores acelerou e fez retroceder todos os segmentos (9,6% em bens de capital/máquinas e equipamentos, 2,7% em bens intermediários/insumos e 2,5% nos bens de consumo, a saber: 9,2% nos duráveis e 0,3% nos semi e não duráveis) e nem sequer a injeção dos R$ 400 bilhões concedidos pelo BNDES e juros subsidiados aos “campeões nacionais” foi suficiente para conter o mergulho de 3,2% da produção geral, responsável pela medíocre criação de apenas 397 mil vagas formais, de acordo com CAGED/MTE), ou, ao menos encurtar o abismo que se enfiou a construção civil e automobilística, e incapaz de mitigar o agravamento da condição financeira, principalmente das pequenas e médias empresas.
O momento é bastante delicado, mas felizmente continuamos avistando ainda o “fio de luz” nesse obscuro e temível túnel. Trata-se do agronegócio que no passado somou ao PIB mais 1%, e que apesar do fim dos saudosos superciclos de bonança, pautou superávit de 80 bilhões de dólares (U$ 97 bilhões em exportações e U$ 17 bilhões em importações, segundo a Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), contribuição que limitou o déficit da balança comercial aos 4 bilhões de dólares. A previsão para 2015 é a agropecuária adicionar mais 2% ao PIB e contabilizar saldo positivo de 83 bilhões dólares através das transações comerciais internacionais.
Considerando nosso modal de transporte, quase que exclusivamente rodoviário, é seguro afirmar que esse facho da cadeia produtiva que reluz, depende do sincronismo entre os segmentos de insumos, agropecuária básica, agroindústria e transportes ou “graneleiros e refrigerados, baús e cegonhas, tocos, trucks e VUCs, bitrens e treminhões” que carregam insumos e produtos, do “Oiapoque ao Chuí” e vice-versa.
É oportuno relembrar também que o esforço público/privado (inclusive de muitos caminhoneiros) no estratégico desvio da matriz de transporte de carga para o norte e o estímulo à renovação da frota, culminaram em excesso da oferta de fretamento e menor quantidade de mercadoria em direção ao sul do país, combinação fundamental que acabou por atrapalhar a contabilidade dos caminhoneiros. Mais recentemente, o crescente aumento dos custos de operação (diesel e lubrificantes, pneus, tarifas de pedágios, licenciamento, juros dos financiamentos, etc.) e a iminente Lei dos Motoristas à ser sancionada, aprofundaram a preocupação diante das dificuldades e levou à deflagração dos bloqueios nas estradas.
Circunstancialmente, justifica-se o interesse dos envolvidos em negociar, sobretudo com serenidade e esforço para entendimento e consenso, porque ao contrário, a persistência desse ambiente tensionado, reservará aos consumidores brasileiros (incluídas as famílias das autoridades públicas, dos empreendedores privados e dos caminhoneiros) depender unicamente do transporte de mercadorias ladeira abaixo…e na banguela!
Por Ariovaldo Zani
Gabriel Zani colaborou na elaboração do artigo