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“Quem gasta mais do que tem, a pedir vem!”

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É quase unânime a conclusão do provável insucesso resultante da mais recente investida do Governo frente à desaceleração econômica doméstica.

A razão é que o admirável avanço apurado logo após a crise de 2008, caracterizado pelo crescimento econômico sustentado na forte expansão do consumo, liquidez do crédito, maiores salários e distribuição de renda, parece já esgotado e extemporâneo por causa das dívidas. Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias já atinge 22% do PIB e o segmento automobilístico, mais uma vez incentivado, já acumula calote de R$ 10 bilhões.

O esfriamento dos preços internacionais favorece ainda a continuidade do corte da SELIC que em algum momento tem que estimular a produção, contudo, mesmo com a desvalorização nos preços das commodities a inflação doméstica continua resistindo e motivada em parte pelo vigor do dólar americano.

O estímulo ao consumo serve de combustível econômico em países já desenvolvidos, enquanto que a prescrição para os emergentes é de investimento público em infra estrutura, acúmulo de poupança interna e ganhos de produtividade.

Nosso Governo precisa trocar despesas de custeio por investimentos que ainda patinam em 18% do PIB e precisam alcançar os 23% para garantir o emprego à crescente mão-de-obra e renda no curto prazo. O Brasil precisa também de uma reforma tributária ampla e desburocratizar procedimentos porque as empresas gastam anualmente R$ 20 bilhões somente com a burocracia tributária.

Em relação ao câmbio, é pertinente refletir se de fato a excessiva desvalorização do Real vai revigorar a enfraquecida indústria nacional. Os ganhos de competitividade na exportação são indiscutíveis, porém a trajetória descendente também impacta negativamente o balanço financeiro das empresas com dívidas alavancadas na moeda de troca.

Além disso, o discutível alívio do spread bancário e a tímida desoneração da folha de pagamentos não parecem animar produtores agropecuários diante da dificuldade em encontrar crédito disponível para financiamento do seu capital de giro.

Tarifa de energia elétrica tributada acima de 30%, salário mínimo reajustado em mais de 14% em janeiro, mês em que o milho era vendido 70% mais caro que em julho de 2010, farelo de soja que valorizou 40% desde abril do ano passado, e o conjunto cereal mais oleaginosa responsável por 50% do custo de produção da carne de frango.

Eis a receita amarga que aflige a avicultura e suinocultura nacionais que empregam mais de dois milhões de empregados e ainda não foram beneficiadas pela desoneração da folha de pagamentos. É importante salientar também que em 2011 a exportação de carne de aves, ainda que timidamente, avançou 3%, enquanto que os embarques de carne suína e bovina retrocederam 5% e 12% respectivamente. A corrosão das margens de lucratividade penaliza até hoje o produtor por causa do excedente ofertado no mercado interno desde o final do ano passado.

Essa simultaneidade de efeitos deletérios constituída por produtos com preços demasiadamente desvalorizados, capacidade de exportação enfraquecida e custo operacional inflacionado tem abatido a pecuária nacional geradora de 18% das exportação do agronegócio e responsável por 6,5% do PIB Brasileiro.

A ponderação entre a fragilidade econômica atual e as modestas perspectivas vindouras e os cenários conjuntural internacional e estrutural doméstico devem constituir pano de fundo para reflexão dos integrantes da cadeia de produção pecuária.

A capacidade de honrar compromissos deve preceder a ousadia nos investimentos, porque ao contrário, a inadimplência e a recuperação judicial pode contagiar os demais elos e comprometer o ritmo da cadeia de suprimentos. Afinal de contas, “quem gasta mais do que tem, a pedir vem!

Ariovaldo Zani é vice-presidente Executivo do Sindirações

Fonte:  Publicação Exclusiva: Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial

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