O encontro foi realizado em Campinas (SP) e contou com a participação do economista Raul Velloso (colunista de O Estado de São Paulo e O Globo) e da jornalista Eliane Cantanhêde (colunista do O Estado de São Paulo e Globonews), abordando os cenários econômico e político, respectivamente
No dia 23 de junho o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação (Sindirações) realizou o “Encontro de Lideranças do Setor: Reconstruindo o Brasil”. O evento aconteceu no Royal Palm Plaza Resort, em Campinas (SP), e contou com a presença de mais de cem líderes de empresas do setor e entidades do agronegócio. Além disso, participaram com palestras os colunistas Raul Velloso (O Estado de São Paulo e O Globo) e Eliane Cantanhêde (O Estado de São Paulo, Globonews e outros veículos), especialistas em economia e política, respectivamente. O objetivo foi discutir o futuro do País e também do setor, considerando a relevância de seu papel no cenário macroeconômico.
Roberto Ignacio Betancourt, presidente do Sindirações, iniciou a programação do evento destacando que o Brasil é respeitado em todo o mundo pela pujança de seu agronegócio. “Já fomos o país do futebol. Agora somos o país do agronegócio, um dos principais pilares da economia brasileira, e temos perspectivas brilhantes pela frente. ” No entanto, Betancourt lembrou das dificuldades impostas pelo Governo Federal. “Hoje mesmo (23 de junho) foi anunciada a intenção de se elevar a taxação sobre a exportação do setor, que é justamente uma das nossas grandes contribuições ao País. Precisamos de um ministério mais parceiro, ágil, técnico e consciente da importância da nossa cadeia produtiva. ”
A respeito da política do governo de aumentar impostos, o consultor econômico e colunista Raul Velloso frisou que se trata de uma abordagem equivocada para um panorama de grave recessão. “A saída para aumentar a arrecadação é racionalizar as contas públicas. É necessário realizar ajustes estruturais, de longo prazo, como conter gastos e sonegação fiscal. Já temos o aprendizado com a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que não trouxe o alívio e benefícios prometidos, e penalizou ainda mais o contribuinte. ”
Velloso acrescentou, ainda, que o Brasil possui uma sólida reserva de US$ 370 bilhões – “mais um motivo para não precisar elevar a carga tributária” — e que aumentar a dívida pública é uma boa solução temporária para que os estados possam se recompor e sair da situação de caos como a do Rio de Janeiro. “Temos uma crise de confiança na capacidade do governo de administrar suas finanças e isso nos impede de iniciar o caminho da recuperação, que envolve fazer investimentos. ” O colunista concluiu sua apresentação enfatizando que “a China daria tudo para ter um agronegócio como o brasileiro. Falta ao Brasil valorizar o setor. ”
Gangorra
O vice-presidente executivo do Sindirações, Ariovaldo Zani, abordou em sua palestra o que chama de “gangorra agropecuária”, que são os ciclos de forte oscilação do preço do milho e soja e sua influência no desempenho do setor pecuário. “O preocupante é que não vemos esforços para se reduzir essa ciclotimia, fruto de um cenário de aumento de demanda por esses grãos, dinamização da exportação, redução de produtividade, e de área plantada, acarretando forte elevação do preço da alimentação animal no Brasil.” Segundo Zani, “o risco é chegarmos a ponto de exportar soja para China e importar farelo desse país. É um panorama de preocupação crescente, que se reflete no setor e no desempenho das indústrias bovina, suína e de aves”.
Em uma análise de longo prazo, Zani afirmou que, caso o ciclo de baixa de preço das commodities agrícolas, iniciado em 1970, se perpetue, poderá ser seguido de um ciclo de alta. “A tendência mundial de safras menores combinada ao aumento de renda e de consumo de proteína animal pela população global pode mudar a situação. ” Zani finalizou a sua participação comunicando que o Relatório Anual 2015-2016 encontra-se disponível para download no site www.sindiracoes.org.br.
O evento foi concluído com a palestra da jornalista Eliane Cantanhêde, sobre a política brasileira. “O PT foi de ‘partido da ética’ a partido do Mensalão e Petrolão. Apesar da gravidade do momento, temos instituições democráticas sólidas e a opinião pública está cada vez mais informada e atuante”, observou. Cantanhêde frisou a importância de se respeitar a Constituição. “Se houve crime de responsabilidade por parte do presidente, ele deve ser impedido e o vice assumir o cargo. A Lei não prevê convocação de novas eleições ou encurtamento de mandato. Não podemos rasgar a Carta que rege o País e muito menos deixar que o ódio de políticos abra brechas para uma aventura inconstitucional”, ressaltou.
Sobre o presidente interino Michel Temer a jornalista acredita que a sua principal missão será recompor o tripé macroeconômico, controlando a meta fiscal, inflação e câmbio flutuante. “Temer não é um consenso, mas está claro que o mercado aposta no seu sucesso e deposita confiança na sua gestão. Ele é um negociador hábil e conciliador, com vasta experiência no Legislativo e por isso tem chance de acertar e deixar a sua marca na história do País. ”
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