De acordo com o último Food Outlook, disponibilizado pela FAO em novembro do ano passado, a produção mundial de carnes estimada em 2013 pode ter avançado apenas 1,4% e atingido o patamar de 308,3 milhões toneladas, apesar do ambiente favorável determinado pelo esfriamento no custo da alimentação animal.
Segundo aquela organização das Nações Unidas, a desaceleração pode ser atribuída ao suprimento doméstico suficiente em vários países importadores e ao retrocesso na capacidade produtiva de alguns dos principais exportadores, embora o incremento da demanda tenha se concentrado nos países em desenvolvimento.
O crescimento ficou sustentado na produção de carne de aves (1,8%) e suína (1,7%), enquanto carne bovina (0,2%) e ovina (1,5%) contribuíram modestamente.
É importante salientar, contudo, que a apuração dos resultados revelou contrastes marcantes no tocante ao comércio internacional, desde a evolução de 4,9% no consumo de carne bovina, até a relativa estabilidade da carne de aves, e o declínio de 2,1% no caso da carne suína.
Essa diminuição no ritmo das relações transacionais em 2013, com potencial crescimento de apenas 1,1% ou 30,1 milhões de toneladas movimentadas, somou não mais que 400 mil toneladas e prejudicou o desempenho da indústria exportadora de carnes, mesmo quando comparado ao ano de 2012 (29,7 milhões toneladas), período no qual o fluxo de embarques adicionou quase o dobro, ou 700 mil toneladas às 29 milhões de tons embarcadas em 2011.
Além disso, o índice de preço (inflacionado) internacional das carnes alcançou 184 pontos em outubro passado, mantendo o mesmo patamar apurado em 2012 e 2011, mesmo frente ao custo da alimentação animal aliviado que diminuiu a pressão sobre a rentabilidade dos produtores.
A estimativa da FAO é que a produção de carne de aves em 2013 tenha avançado apenas 1,8% e totalizado 107 milhões de toneladas, ritmo modulado pelas preocupações com o surto do vírus H7N9 na China, mas também estimulado pelo recuo no preço da ração e pelo consumo distribuído tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento.
O frango é considerado a proteína de origem animal que conta com preço mais competitivo frente às demais carnes, embora a preocupação do consumidor com a gripe aviária tenha contido seu consumo na China em 2013. Diferentemente, o desempenho produtivo foi positivo em outros países, inclusive nos Estados Unidos, que contabilizou avanço de 2,4% e recuperou-se da estagnação apurada em 2012.
De acordo com a UBABEF, a cadeia produtiva brasileira produziu 12,3 milhões de toneladas de carne de frango em 2013 e marcou retrocesso de quase 3%.
A categoria (aves) é considerada responsável por quase 45% do comércio global das carnes (bovina, suína, ovinas, aves) e embora sua quantidade transacionada tenha dobrado ao longo da última década, o ritmo de crescimento diminuiu nos últimos dois anos. Os quatro principais exportadores, Brasil, Estados Unidos, União Europeia e China, respondem ainda por quase 3/4 do comércio global, embora nos últimos anos, pouca expansão tenha sido apurada em suas vendas. Ao contrário, boa parte do avanço tem origem nos exportadores ditos “de segunda linha”, incluindo Argentina, Turquia, Ucrânia, Belarus, Irã e Coréia do Sul.
A expectativa da FAO é que dentre aqueles supridores tradicionais, apenas os Estados Unidos podem vivenciar status inalterado, enquanto os outros grandes devem perder participação no comércio internacional. Em 2013, a indústria exportadora brasileira recuou 0,7% e expediu quase 3,9 milhões de toneladas de carne de frango, de acordo com as estatísticas da UBABEF.
No caso da carne suína, o avanço da demanda na Ásia continuou incentivando sua produção (quase 2/3 originária de países em desenvolvimento), enquanto moderado declínio no consumo foi verificado nos países desenvolvidos. A estimativa da FAO é que em 2013 a produção tenha avançado 1,7% e alcançado 114,6 milhões de toneladas, saldo que o Brasil contribuiu com pouco mais de 3,4 milhões de toneladas.
Os embarques encolheram por conta da disponibilidade restrita nos países responsáveis por 85% das vendas globais, ou seja, a União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Essa limitação, contudo, foi parcialmente compensada pelas expedições crescentes de países com capacidade de oferta menor, tais como a China, Chile, Tailândia e o México, reconhecido recentemente como livre da peste suína clássica. De acordo com dados publicados pela ABIPECS, as exportações brasileiras de carne suína somaram pouco mais de 517 mil toneladas, ou seja, um recuo de 11%, por causa das restrições em alguns mercados por conta dos embargos sanitários.
Desafiados pelos dados supramencionados que tendem alimentar o recrudescimento da competição global pelos mercados-destino, os produtores brasileiros de aves, ovos e suínos e os exportadores de carne avícola e suína entenderam necessário fortalecer esse já bem sucedido elo da cadeia produtiva.
A institucionalização recente da Associação Brasileira de Proteína Animal/ABPA, em substituição às entidades extintas, União Brasileira da Avicultura/UBABEF e Associação Brasileira da Indústria Processadora e Exportadora de Carne Suína/ABIPECS, certamente contribuirá sobremaneira na agregação de valor dos respectivos produtos exportados e, acima de tudo, encontrará sinergia através do diálogo e entendimento com os elos remanescentes, representados pelas demais entidades representativas fornecedoras dos indispensáveis insumos.
Por Ariovaldo Zani (Vice-presidente executivo do Sindirações)