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Agenda agro para cooperação Brasil – África

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A agricultura brasileira está em ótimo momento e, aliada ao crescente protagonismo dos países emergentes, tem elementos para uma agenda positiva de cooperação com a África. Essa agenda pode trazer significativos benefícios tanto para os países africanos, muitos deles ainda com graves problemas de fome e desnutrição, quanto para o Brasil. Com maior interação com a realidade africana e apoio ao profissionalismo da cooperação brasileira, esses benefícios podem ser potencializados. O bom direcionamento da cooperação governamental pode até mesmo facilitar e acelerar o fluxo de investimentos brasileiros naquele continente, criando um ambiente propício para negócios agroindustriais.

Os esforços do governo brasileiro na cooperação para o desenvolvimento internacional cresceram significativamente na última década, assim como a cooperação Sul-Sul, de maneira geral. O Brasil pauta sua cooperação internacional nos princípios de solidariedade, equidade, respeito à soberania e benefícios mútuos. Na área de agricultura, o País aposta na transferência de conhecimentos e na ajuda para adaptar experiências de sucesso. Treinamentos e capacitações, visitas técnicas e “ajuda mão na massa” são características do jeito brasileiro de cooperar, ainda em seus estágios iniciais. Diferentemente da sofisticada indústria de cooperação dos EUA e da Europa, a cooperação brasileira vem sendo realizada pelos mesmos técnicos que executam ações e políticas no Brasil.

A Embrapa tem destaque na execução da cooperação técnica, por meio de capacitações diversas e da execução dos chamados projetos estruturantes. No Senegal, ajudou o país a desenvolver sua produção de arroz, testando variedades brasileiras e treinando técnicos locais. O projeto Cotton-4 colabora com a cadeia produtiva do algodão em Mali, Burkina Faso, Benine Chade. Em Moçambique, país de língua portuguesa com o quarto pior IDH do mundo, há dois projetos da Embrapa em curso. Desde 2010 foi estabelecida colaboração com o instituto de pesquisa agrícola local para dar suporte à sua capacidade institucional, ao sistema de produção de sementes e a tecnologias de monitoramento e informações geográficas. Já o ProSavana é um projeto tripartite entre os governos do Brasil, de Moçambique e do Japão para desenvolver o Corredor de Na cala, inspirado na experiência do Cerrado brasileiro.

Apesar do entusiasmo da diplomacia da solidariedade, cujo expoente maior foi Lula, o governo Dilma freou o crescimento de desembolsos para cooperação e parece mais focado no pragmatismo e nas oportunidades comerciais resultantes. O Itamaraty, no entanto, poderia ser muito mais efetivo em facilitá-las. Não há dúvida de que uma diplomacia comercial forte na área agrícola faz todo o sentido.

A ajuda ao desenvolvimento da agricultura tropical africana possibilitaria a abertura de um amplo mercado para empresas e serviços brasileiros no continente que é tido como a nova fronteira agrícola mundial. A agricultura pode ser um importante gatilho para um amplo processo de desenvolvimento econômico e social, trazendo Infraestrutura e serviços públicos variados. Para que isso se concretize a forte presença do Estado e a responsabilidade social corporativa são cruciais.

O Brasil ainda está aprendendo afazer cooperação e esperamos que haja uma agenda clara nesse sentido com a África, com objetivos explícitos e uma governança transparente. Assim, organizações brasileiras, junto à comunidade internacional, poderão trabalhar de modo mais coordenado e coerente, inclusive monitorando os impactos dessa agenda. A cooperação em agricultura com esse continente tem enorme potencial de fomentar desenvolvimento social e econômico por meio de novos modelos de agricultura tropical integrada a mercados globais, com fortes benefícios para as populações locais. Juntos, governos e empresas, com participação da sociedade civil, devem ajustar seus rumos para aproveitar essa oportunidade ímpar.

* Diretor e pesquisadora da Agroicone

FICHA DE AQUISIÇÃO

COMPÊNDIO BRASILEIRO DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL