Em função das exigências ambientais e sanitárias, sobretudo por parte dos mercados europeus, a rastreabilidade da cadeia de produção de alimentos é hoje uma necessidade e uma realidade. Para Ariovaldo Zani, CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindiraçōes) e presidente do CBNA (Colégio Brasileiro de Nutrição Animal), ela pode ser a resposta do agronegócio brasileiro à segurança alimentar e à pauta ESG.
Em entrevista ao Geocracia, Zani afirma que isso, no entanto, depende da implantação de um banco de dados confiável e com sistema centralizado para coleta, análise e difusão de informações, no âmbito de uma coordenação público-privada no setor agro, com órgãos governamentais ajudando a iniciativa privada a praticar essa rastreabilidade. “As diversas entidades representativas do setor agropecuário mantêm banco de dados fragmentados e, às vezes, divergentes, afora os diversos órgãos do governo, que também dispõem de informações importantes, contudo difusas”, afirma Zani, que é médico veterinário e se dedica ao tema da nutrição animal por mais de três décadas.
Acompanhe a entrevista, a seguir.
Em que sentido as ferramentas de georreferenciamento podem ser um reforço do ambiente “glocal” – neologismo que resulta da fusão globalização e localização?
Anunciada pela FAO como bastião da segurança alimentar e reconhecida por pesquisadores de notório saber como solucionadora de desafios, a agropecuária brasileira engajou-se voluntariamente contra a escalada da temperatura e, há tempo, pratica uma atividade de baixa emissão de carbono, produção de biocombustíveis renováveis, regularização ambiental, recuperação florestal e de pastagens degradadas, integração da lavoura com a pecuária e a floresta, entre tantos outros compromissos e iniciativas que visam a garantir às gerações futuras o usufruto contínuo dos recursos naturais contemporâneos.
A rastreabilidade da cadeia produtiva (dentro da porteira) é essencial na avaliação criteriosa para mensuração de quanto CO2-equivalente tem de ser reduzido pela pecuária para cumprimento das metas firmadas e quais tecnologias de potencialização ofertadas são mais ajustadas aos diferentes sistemas pecuários instalados nesse Brasil de dimensões continentais e à capacidade de absorção financeira por parte da demanda global. Isso sob pena de sofrer efeitos indesejáveis, a exemplo do que tem se dado com a célere transição energética (combustíveis fósseis para alternativos) e seu impulso inflacionário, mais associado ao choque negativo de oferta do que ao choque positivo da demanda.
O setor de rações, que utiliza sais e suplementos, muitos deles importados, está conseguindo fazer essa rastreabilidade?
O setor privado tem discutido com o governo a hipotética viabilidade e as possíveis alternativas em oferecer incentivos para atração de investimentos voltados à síntese local de insumos químicos e incremento no parque industrial já instalado de biossíntese fermentativa, atividades especializadas e caracterizadas por grande conteúdo tecnológico e de alto valor agregado. Contudo, por enquanto, a cadeia produtiva continua bastante dependente do suprimento externo dos aditivos utilizados na alimentação animal. A rastreabilidade de boa parte dessas mercadorias importadas é prejudicada porque possui posição tarifária genérica (código NCM 2309.90.90), circunstância que não permite sua identificação específica.
Numa ótica de integração de ações público-privadas no setor agrícola, como os órgãos governamentais poderiam ajudar a iniciativa privada a praticar essa rastreabilidade?
Através da implantação de um banco de dados confiável e com sistema centralizado para coleta, análise e difusão de informações. As diversas entidades representativas do setor agropecuário mantêm banco de dados fragmentados e, às vezes, divergentes, afora os diversos órgãos do governo, que também dispõem de informações importantes, contudo difusas. O processo então permitiria rastrear essas informações centralizadas e disponibilizar um banco de dados compartilhado que beneficiaria a todos.
Na visão do Sindirações, o que deveria ser feito para garantir a informação aberta a respeito do subproduto importado?
A solução seria o órgão regulador (SECEX/CAMEX) elaborar, por exemplo, um catálogo a ser consultado publicamente com subcódigos para identificação específica daqueles insumos importados que não contam com posição tarifária específica.
Fonte: Geocracia