Há alguns anos, o Serviço de Observação Estratégica Europeia profetizou que a perda de competitividade dos principais atores globais permitiria ao Brasil abocanhar mais da metade do crescimento do mercado com 30% das exportações globais de carnes até 2020, e que nosso país seria o único onde a produção de carne de frango aumentaria mais rápido do que o consumo.
Mais recentemente, o estudo da FAO (Biannual Report on Global Food Markets/ Food Outlook 2015) estimou crescimento de 1,3% na produção mundial das carnes bovina, suína, de aves e outras, algo em torno de 4 milhões de toneladas, culminando no patamar de aproximadamente 319 milhões de toneladas, e sustentado pelo avanço hipotético na China, União Europeia, Estados Unidos e Brasil.
No caso específico da carne de aves, a produção global estimada em 111,8 milhões de toneladas é resultado do avanço de 1,4% apenas, mesmo diante do alívio no preço dos principais insumos da alimentação animal, milho e farelo de soja. Esse ritmo apurado é bem mais lento quando comparado aos 3% anuais, verificados durante a última década, e comprometido por diversos fatores, dentre eles, a estagnação da produção chinesa, por causa da desaceleração econômica naquele país e a diminuição do consumo pelos seus consumidores preocupados com a influenza aviária.
Bem mais robusta, a produção brasileira avançou 7,5% e já produziu mais de 5,5 milhões de toneladas de janeiro a maio, montante que pode superar 13 milhões de toneladas durante o ano corrente, convergindo assim com as previsões estimadas pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
É oportuno também registrar que o Brasil é o único país entre os grandes produtores a nunca registrar um só foco da doença supramencionada. Apesar da capacidade de compra do consumidor doméstico ter encolhido por causa da deterioração econômica local, a carne de frango tem gradualmente substituído a carne bovina na mesa do consumidor brasileiro. De janeiro a junho, o alojamento de pintainhos cresceu 4,7% e a indústria de alimentação animal respondeu com 16,1 milhões de toneladas de rações para frangos de corte, um avanço de 5,4%, quando comparado ao contabilizado no primeiro semestre do ano passado.
Já a Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica/OECD, através do mais recente relatório “Agricultural Outlook” estima que em 2023 a produção de carne de aves será encabeçada pelos Estados Unidos com 24,5 milhões de toneladas, seguida da China com 22,4 milhões de toneladas, Brasil totalizando 15,4 milhões de toneladas e em seguida, a União Europeia com 13,9 milhões de toneladas.
As transações globais, por sua vez, devem desacelerar, alcançar 31,2 milhões de toneladas e avançar apenas 1,7% em 2015, quando comparado ao crescimento de 3,1% do ano passado. Responsável por mais de 40% desse comércio e ranqueada como produto mais negociado, a carne de aves pode somar 13,1 milhões de toneladas, um avanço da ordem de 2,6%. Esse viés mais moderado, cuja tendência vem desde 2012, é reflexo da produção aumentada nos países importadores e menos dependentes do suprimento externo.
Enquanto isso, os embarques do Brasil têm sido impulsionados pelos embargos dos tradicionais clientes dos Estados Unidos, onde vinte e um estados sofrem com a influenza aviária que já abateu mais de 48 milhões de aves, e pela abertura de novas oportunidades e ampliação no comércio com a Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, União Europeia, China, África do Sul, Coréia do Sul, Egito, México, etc.
Até julho, as exportações brasileiras de carne de frango in natura, cortes e derivados avançaram 4,5%, já alcançaram quase 2,5 milhões de toneladas e a receita em Reais somou R$ 12,7 bilhões (crescimento de 22,1%) enquanto em dólares retrocedeu 8% e contabilizou U$ 4,2 bilhões.
O câmbio desvalorizado decerto tem colaborado na competitividade do produto além fronteira, contudo a combinação dos demais atributos, dentre eles o melhoramento genético, a tecnologia nutricional e o status sanitário é que vem garantindo a permanência e acesso aos mercados e coroando essa bem-sucedida cadeia produtiva.
Por Ariovaldo Zani