De acordo com as previsões do International Grain Council (Grain Market Report – 2015, January 22nd), a safra global 2014/2015 poderá alcançar mais de 2 bilhões de toneladas de grãos e cereais e a demanda superar 1,97 bilhão, resultando nos maiores estoques de passagem, desde meados da década de 1980, ou 7,2% acima dos apurados na safra 2013/2014.
Simultaneamente, o recente levantamento para a mesma safra 2014/2015, elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA – World Agriculture Supply and Demand Estimates – 2015, January 12th), prevê colheita de mais de 2,4 bilhões de toneladas e estoque de passagem resultante de quase 519 milhões de toneladas.
A despeito das diferenças apuradas, fato é que, os estoques globais vêm se recuperando depois das atípicas alterações que em 2012 abateram violentamente as lavouras nos Estados Unidos e comprometeram também a produtividade na América do Sul.
Esse alívio contabilizado no relatório americano antevê a produção mundial de aproximadamente 988 milhões de toneladas de milho e 199 milhões de toneladas de farelo de soja – e consumo de 971 e 195 milhões de toneladas, respectivamente –, que reserva uma passagem para o próximo ano de 189 milhões de toneladas de milho (18,8% da demanda global) e mais de 11 milhões de toneladas de farelo de soja (5,8% da demanda global em 2014/2015, quando comparada aos 5,6% da safra 2013/2014 e 5,4% da 2012/2013).
O milho e a soja são produtos comercializados internacionalmente, ou seja, commodities agrícolas, cujos preços são modulados por movimentos cíclicos de expansão/contração da oferta em resposta ao ritmo da demanda, por sua vez, impulsionada por fatores econômicos e políticos.
A generosa disponibilidade vindoura (safra de soja recorde e histórica de 108 milhões de toneladas nos Estados Unidos; condições climáticas favoráveis ao plantio/produtividade na América do Sul – 55 milhões de toneladas de soja + 22 milhões de toneladas de milho na Argentina), e a conjuntura econômica contemporânea (valorização do dólar, queda no preço do petróleo, desaceleração gradual chinesa, enxugamento monetário e alta dos juros nos Estados Unidos, recuperação europeia ainda indefinida) devem limitar elevações dos preços durante todo o primeiro semestre, embora a demanda da cadeia produtiva global de carnes continue firme, principalmente no leste asiático.
Os preços das commodities declinaram concomitantemente ao observado com o índice de preços dos alimentos da FAO (cereais, óleos vegetais, laticínios, açúcar e carnes) que vem encolhendo consecutivamente nos últimos três anos. A média alcançou 202 pontos e retrocedeu 3,7% em relação ao apurado em 2013, sendo importante salientar que enquanto os cereais desabaram 12,5%, as carnes subiram 8,1% em 2014.
Essa tendência baixista tem aliviado as cotações domésticas, influenciadas inclusive pelas revelações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, Brasília/DF – Acompanhamento da Safra Brasileira/Grãos – 4º Levantamento, Janeiro 2015), cuja estimativa para a safra brasileira 2014/2015 é de mais de 202 milhões de toneladas, sendo 79 milhões de toneladas de milho (por conta da redução na intenção de plantio da 1ª Safra) e 96 milhões de toneladas de soja (esmagamento de 41 milhões de toneladas e disponibilização de 31,6 milhões de toneladas de farelo de soja).
A previsão é que em 2015 a indústria de alimentação animal brasileira demande mais de 42 milhões de toneladas de milho e 14,5 milhões de toneladas de farelo de soja (estimativa consumo em 2014 é de 41 milhões e 14,1 milhões, respectivamente).
É evidente que essa depreciação identificada e persistente continuará afetando as perspectivas futuras de crescimento dos países predominantemente exportadores de commodities, particularmente o Brasil.
A falta de instrumentos capazes de antever com precisão absoluta o comportamento das variáveis futuras que modularão os preços, corroboram à perspectiva de um longo período de moderação nas cotações internacionais, ao contrário da pecuária, cujos produtos devem continuar com preços turbinados, pelo menos até que algum descompasso conjuntural entre a oferta e a demanda venha inibir o consumo da proteína animal.
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Por Ariovaldo Zani, médico veterinário, professor do MBA/PECEGE/ESALQ/USP, mestrado profissional/FZEA/USP e Gabriel Zani – FFLCH/USP