É oportuno ressaltar que recrudesce a competição pelos insumos agrícolas (milho e soja para ração animal e alimentação humana, além de etanol e biodiesel), e tal cenário estabelece grande oportunidade para que os empreendedores da agricultura e da pecuária e os agentes públicos da Conab e do Ministério da Agricultura dialoguem mais, com intuito de agir rapidamente nas possíveis ações de curto prazo (leilões PEP e PEPRO, aumento da capacidade de armazenamento) e de médio prazo (infraestrutura logística e modal de transporte) para assegurar a disponibilidade e o preço justo, manter a competitividade exportadora, moderar o ímpeto de alguns especuladores oportunistas, fortalecer ainda mais a cadeia produtiva e permitir que a proteína animal continue servida na mesa das famílias brasileiras.
A indústria de alimentação animal brasileira prevê consumir mais de 43 milhões de toneladas de milho e 15 milhões de toneladas de farelo de soja em 2016, ou algo em torno de 10 milhões de toneladas do cereal e 3 milhões de toneladas de farelo durante o primeiro trimestre do ano corrente, período abastecido principalmente pelos estoques que sobraram da safra passada.
A vigorosa e contínua desvalorização da moeda local (dólar valia R$ 2,63 em janeiro/15 e R$ 3,97 em janeiro/16), somada ao invejável desempenho exportador do agronegócio, que durante o ano comercial expediu, além de carnes, café, celulose, etc., quase 35 milhões de toneladas de milho, 54 milhões de toneladas de soja e quase 15 milhões de toneladas do farelo, culminaram por catapultar as cotações, bastando comparar pontualmente o preço em Reais do milho, comercializado no interior de SP em janeiro desse ano (alinhado ao preço de embarque em Paranaguá/PR), com aquele praticado em janeiro de 2015 (R$ 46,00/saca 60kg e R$ 28,00/saca 60kg, segundo CEPEA), ou então a tonelada de farelo de soja (R$ 1310,00 em janeiro/16 e R$ 998,00 no mesmo mês do ano passado) e constatar altas de mais de 60% e 30%, respectivamente.
Em consequência, o custo das rações hipotéticas para frangos e suínos nesse janeiro já se posiciona, em média, 35% maior que o apurado há um ano, muito embora, considerando a mesma comparação, o preço pago ao produtor de frangos avançou somente 21%, tendo até recuado 7% no pagamento do produtor de suínos, deflagrando assim a corrosão da rentabilidade e maior exposição da cadeia produtiva, já que repasses adicionais não tem sido absorvidos pelo empobrecido consumidor brasileiro.
Essa tendência altista prevalece desde o segundo semestre do ano passado, apesar das positivas revelações da Conab (Acompanhamento da Safra Brasileira/Grãos – 9o. Levantamento, Janeiro 2016) para a safra brasileira 2015/2016, com estimativa de produção de mais de 210 milhões de toneladas (82 milhões de toneladas de milho, 103 milhões de toneladas de soja e mais de 31 milhões de toneladas de farelo).
Essa precificação resiste àquela mundo afora, onde os preços de milho, complexo soja e outras commodities declinam concomitantemente ao observado com o índice de preços dos alimentos da FAO (cereais, óleos vegetais, laticínios, açúcar e carnes), e que vem encolhendo consecutivamente nos últimos quatro anos. A média do Food Price Index em 2015 alcançou 164 pontos e retrocedeu 19% em relação ao apurado em 2014 (202 pontos), e mergulhou 29% desde 2011 (230 pontos).
As razões fundamentam-se na generosa disponibilidade vigente e a conjuntura econômica contemporânea, caracterizada pela valorização do dólar, queda no preço do petróleo e consequente diminuição da adição de etanol à gasolina americana, desaceleração econômica na China, enxugamento monetário e alta dos juros nos Estados Unidos, inverno menos rigoroso no hemisfério Norte, recuperação europeia ainda indefinida, liberação gradual dos estoques argentinos, etc.
A baixa dos preços em dólares do milho e do farelo de soja durante todo o ano passado, serve como exemplo, já que, segundo o USDA Market News, ambos recuaram respectivamente 10% e 21%, ou seja, em janeiro/2015, o milho custava em média U$ 174/tonelada e o farelo de soja U$ 379/tonelada, enquanto que recentemente, em janeiro desse ano, o milho valia menos, apenas U$ 158/tonelada e o farelo de soja U$ 298/tonelada.
De acordo com as previsões do USDA, registrada no relatório de oferta e demanda, publicado em meados de janeiro, esse alívio pode continuar por causa da produção mundial de aproximadamente 968 milhões de toneladas de milho e 217 milhões de toneladas de farelo de soja e razoável estoque de passagem para o próximo ano. Importante salientar, inclusive, que ao contrário do milho, a oferta global da soja vem se recuperando depois das atípicas alterações em anos passados que comprometeram as lavouras nos Estados Unidos e a produtividade na América do Sul.
Já os dados do Grain Market Report, publicado pelo International Grains Council/IGC em novembro do ano passado, preveem uma safra global 2015/2016 de cereais e oleaginosas, mais modesta, quase 2 bilhões de toneladas e consumo total (feed, food, etanol, biodiesel) bastante próximo da produção.
Por se tratarem de mercadorias comercializadas internacionalmente, milho e soja tem seus preços modulados pelos movimentos cíclicos de expansão e contração da oferta em resposta ao ritmo da demanda.
Lamentavelmente no Brasil, os preços decolaram e continuam impulsionados por fatores econômicos e políticos.