A preocupante perda de competitividade e a pressão sobre a produtividade das cadeias de produção e alimentação animal vem se acentuando pela persistente insegurança jurídica, falta de clareza sobre direitos e deveres e sucessivas alterações nas legislações e marcos regulatórios, além da burocracia estatal permeada por excessivos e complexos procedimentos e pela asfixiante carga de impostos que onera os preços por conta do sistema cumulativo de tributos. Esse ambiente pouco confiável e hostil aos negócios, além de desestimulador aos investimentos, afeta cada vez mais os diversos segmentos.
Em 2012 a indústria, em geral, recuou 0,8%, a agricultura retrocedeu 4% e o setor de alimentação animal amargou um recuo de 3%, resultado ponderado entre a queda de 2,3% no consumo de rações completas e o acentuado mergulho de 17% na demanda por suplementos. Vale lembrar que 80% dessas rações alimentaram suínos e aves, produtores de carnes e ovos, e quase a totalidade dos suplementos serviram à pecuária bovina, supridora de leite e carne também.
A avicultura de corte, por exemplo, sofreu retração no alojamento de matrizes (46,5 milhões) e pintinhos (6 bilhões) e consumiu apenas 31,1 milhões de toneladas de ração em 2012, enquanto de Janeiro a Março desse ano o setor demandou 4,2% menos ração que no mesmo trimestre do ano anterior. A previsão de crescer ao menos 2% até o final do ano vai depender da recuperação do preço pago ao frango vivo, somada ao alívio nos custos de produção e do vigor exportador para novos mercados.
Ainda no ano passado, a demanda por rações da bovinocultura de corte retrocedeu mais de 5% e alcançou apenas 2,6 milhões de toneladas, em resposta ao custo elevado da alimentação concentrada, enquanto a demanda por sal mineral caiu 17% prejudicada pela pressão no preço da arroba, motivada pelo mercado ofertado de animais e participação das fêmeas que representaram 42% do abate total. Durante esse primeiro trimestre, caracterizado por maior oferta de bois e abate maior de matrizes que não emprenharam, a demanda por rações manteve estabilidade e o interesse pelos suplementos continuou bastante apático, quando comparados ao mesmo período do ano passado.
Foram produzidas 4,8 milhões de toneladas de rações para bovinocultura leiteira em 2012, resultado da seletividade do pecuarista que eliminou vacas de baixa qualidade para melhoria da produtividade, apesar da média nacional ainda não ter alcançado 1400 litros/vaca/ano. O alto custo da alimentação com concentrado corroeu a margem do produtor, situação agravada pela estabilidade do preço pago pelo leite influenciada pelas importações de lácteos oriundos do Uruguai e Argentina e da atipicidade pluviométrica que se abateu no ano passado. Nos três primeiros meses o consumo de rações retrocedeu quase 20% em relação ao último trimestre de 2012.
A receita da exportação de carne suína em 2012 cresceu 4% e a quantidade embarcada mais de 12%, apesar da contínua evolução da produção na Rússia e do embargo argentino. O salto do preço do milho e farelo de soja inviabilizou muitos pequenos e médios empreendimentos independentes e influenciou sobremaneira a demanda por rações que recuou 2,2% e alcançou 15,1 milhões de toneladas. A liquidação forçada de parte dos planteis ofertou mais carne no mercado doméstico e pressionou o preço do animal vivo que desvalorizou 3% ao longo do ano, apesar da recuperação verificada no segundo semestre. A retração dos embarques e enfraquecimento do consumo doméstico de carne suína pressionaram os preços apurados e esfriaram a demanda por rações que avançou apenas 1% no primeiro trimestre de 2013. Diante da contínua tendência de consolidação dos independentes e provável manutenção do rebanho de matrizes, a indústria de rações para suínos poderá crescer 2,5% ainda até o fim do ano, caso o custo de produção não sofra tanta volatilidade ao longo do ano.
Na contra mão, a produção de ração para poedeiras cresceu 5,4% e somou 5,2 milhões de toneladas durante o ano de 2012, em resposta ao incremento de quase 8% no alojamento das 85,7 milhões de pintainhas que eleva a estimativa para um plantel total de 120 milhões de aves. A tendência de valorização no preço do ovo pago ao produtor que perdura por quase um ano e a demanda que já avançou 3% no primeiro trimestre permite prever um incremento anualizado da ordem de 2,6%.
Já a demanda por rações para peixes no ano passado foi de 575 mil toneladas, caracterizada pelo contínuo crescimento que alcançou 15%, enquanto para os camarões aumentou 7,1%, reação que redundou em 75 mil toneladas. O lançamento do Plano Safra de incentivo à produção aquícola e a expectativa de harmonização nos requisitos para concessão de licenças podem manter o dinamismo apurado nas respectivas cadeias produtivas. Durante o primeiro trimestre já foram consumidas mais de 200 mil toneladas de rações para peixes e camarões, o que permite prever um crescimento de no mínimo 14% ao longo de 2013.
A fragilizada economia global reconhecidamente afetou direta e indiretamente o desempenho brasileiro, cujo PIB aumentou menos de 1% no ano passado, embora outros emergentes, sujeitos às mesmas intempéries, demonstraram razoável crescimento econômico, pois a China saltou 7,8%, a Índia 5% e a Rússia 3,4%.
Um hipotético avanço de 3% na produção brasileira de alimentos para animais capaz de compensar as perdas acumuladas em 2012, tornar-se-á motivo de celebração, diante das transações internacionais em marcha lente e porque passados já cinco meses, o bolso do endividado consumidor ainda esvaziado parece limitar até 2,5% o crescimento do PIB brasileiro.
Diz a sabedoria milenar chinesa que “se em vez de enchermos o bolso, enchermos a cabeça, não seremos roubados”.
Ariovaldo Zani é Vice-Presidente Executivo do Sindirações