Ainda na metade do século XX em resposta à crise social e ambiental que afligia a humanidade, ganhava importância o desenvolvimento sustentável condicionado ao atendimento das necessidades da época sem comprometimento das gerações futuras.
É lógico e flagrante perceber que a essencialidade desse conceito é dependente do equilíbrio estabelecido pela intersecção de variáveis incondicionais e simultâneas, a saber: a expressão ajustada do bem estar da sociedade, o crescimento econômico contínuo e a finitude dos recursos naturais.
Falando de combustíveis, é importante salientar, contudo, que iniciativas hipotéticas voltadas ao nobre intuito de mitigar a emissão de CO2-equivalente por unidade de PIB exigem cautela por causa dos paradoxos da vida ecologicamente correta. O efeito-rebote pode ser exemplificado quando consumidores bem intencionados queimam combustível por longas distâncias para comprar pequenas quantidades de comida orgânica em mercados supridos por fornecedores que trazem seus produtos em caminhões que saem de fazendas localizadas bem além dos subúrbios.
É evidente que a utilizaçãode fontesenergéticas limpas tornou-se tema contemporâneo nessa onda verde global que surfamos e o Brasil, gigante pela própria natureza, já convenceu até a poderosa Agência Americana de Proteção Ambiental que o etanol da cana-de-açúcar é combustível avançado capaz de emitir 61% menos CO2-equivalente que a gasolina.
Recentemente uma nova tecnologia muito eficiente lançada nos Estados Unidos promete produzir etanol a partir de hidrocarbonetos custando 65% do preço do galão do combustível de milho. Ou seja, nossos vizinhos do Norte poderiam utilizar o gás natural ou carvão para produzir etanol combustível à ser misturado na gasolina e então reduzir a dependência do petróleo estrangeiro sem necessidade de subsídios, além de redirecionar o uso das terras aráveis para produção de alimentos.
Inovações como essa são necessárias, todavia torna-se mandatório respeitar as conclusões fundamentadas em ampla abordagem porque a intensidade dos efeitos econômicos e ambientais impacta também todos os elementos da cadeia de produção, que na agricultura começa na lavoura e alcança a mesa do consumidor.
Por exemplo, a hipotética produção de etanol no Brasil à base de milho agregaria um novo elemento à arena de competição e poderia inflacionar o grão beneficiando em curto prazo apenas agricultores que lograriam maior rentabilidade.
Esse prêmio, contudo, imporia ao elo seguinte um custo adicional que exigiria reposicionamento do preço das mercadorias oriundas da cadeia de produção. Por sua vez, consumidores domésticos optariam por produtos substitutos e a indústria exportadora menos competitiva culminariam com uma demanda reprimida de milho, cujo ciclo vicioso comprometeria sobremaneira a cadeia de produção no todo. O que parecia estabelecer inicialmente a “salvação da lavoura” pode levar “a vaca para o brejo”.
Nos Estados Unidos os produtores de aves e suínos continuam padecendo sob os efeitos impostos pela Lei de Energia Americana e que desde 2002 aumentou mais de seis vezes a produção de etanol de milho e fez triplicar o preço do cereal. As adições crescente consumiram 40% da safra em 2011 e devem alcançar mais de 15 bilhões de litros em 2015.
É importante salientar que a indústria de alimentação animal brasileira consome mais de 2/3 de toda safra e estima consumir quase 60 milhões de toneladas do cereal ainda em 2020, em resposta à crescente e contínua demanda da indústria das carnes. A preocupação com o abastecimento futuro e com o desenvolvimento sustentável tem motivado a implementação de tecnologias capazes de substituir parte dos elementos vegetais utilizados. O setor tem contribuído através da substituição de parte do milho das rações por aditivos que contribuem para eliminação de menos dejetos e mitigação da emissão de CO2-equivalente.
A cana-de-açúcar apresenta muitas vantagens na produção de etanol, a saber o dobro da produção em litros por hectare, balanço de energia positivo, menor custo de produção e ausência de subvenção governamental, quando comparada ao milho que reduz em apenas 21% a emissão de CO2 quando comparado à gasolina.
A alternativa mais sensata para residir na formulação de uma política industrial para incentivo ao investimento e instalação de novas usinas de etanol da cana-de-açúcar, além de medidas político-econômicas adequadas à precificação dos combustíveis fósseis e eventualmente até a agregação dos custos das externalidades.
Os argumentos expostos parecem convencer que o milho produzido no Brasil deve ser reservado à indústria de alimentação, cuja viabilidade calcada no conceito da segurança alimentar demanda convergência de esforços que favoreçam os investimentos para ganho de produtividade das lavouras, aumento da área de armazenamento e principalmente garanta justa e legítima rentabilidade ao agente essencial que é o produtor rural.
Por Ariovaldo Zani (Vice-Presidente Executivo do Sindirações)
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Fonte: Revista Feed&Food – Vitrine Agro Maio 2012 – Página 50