SÃO PAULO (Reuters) – A indústria de alimentação animal, que costuma refletir o desempenho dos produtores de carnes do Brasil, avalia que a crise econômica pela qual passa o país deverá ser um obstáculo para o setor cumprir a meta de aumento de produção de 3 por cento em 2015, apesar dos menores custos de matérias-primas, como soja e milho.
“Estamos absurdamente otimistas falando de um crescimento de 3 por cento”, afirmou à Reuters Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindirações, entidade que congrega empresas como a BRF, Ouro Fino e multinacionais do agronegócio como a ADM.
Zani citou a elevada inflação, a taxa básica de juros mais alta, além de um mercado de trabalho mais fraco, entre os fatores por trás do pessimismo com a própria meta de crescimento da produção da indústria de ração, que movimenta anualmente cerca de 50 bilhões de reais, considerando somente os valores das matérias-primas, como soja e milho.
Segundo o dirigente da associação, as incertezas no “plano doméstico” preocupam muito mais do que questões externas para a indústria de ração, também dependente do ritmo das exportações de carnes, especialmente a de aves.
Mas também há temores no plano externo, como a queda dos preços do petróleo, que pode afetar a renda de países do Oriente Médio, importantes compradores de carne de frango do Brasil, a crise da Rússia, grande mercado para os frigoríficos brasileiros, e também um crescimento mais lento da China.
O crescimento previsto, ainda que seja atingido, representará um ritmo menor do que o visto em 2014, quando o setor elevou a produção em 4,3 por cento na comparação com 2013, para 67,4 milhões de toneladas, tendo o melhor desempenho dos últimos anos. Um aumento de 3 por cento em 2015 elevaria a produção para pouco mais 69 milhões de toneladas.
“Pra piorar, temos perspectiva de racionamento de energia e de água, principalmente na região Sudeste”, acrescentou, explicando que essas ameaças, se concretizadas, não afetariam tanto o setor, até porque a expectativa de crescimento é relativamente baixa.
Em 2014, do total produzido pela indústria de ração, o setor de aves respondeu por mais de 50 por cento, ou 37 milhões de toneladas (+3,6 por cento ante 2013), seguido pelo segmento de alimentação de suínos, com 15,2 milhões de toneladas (+2 por cento). A demanda da pecuária bovina foi de 8 milhões de toneladas (+6,3 por cento).
Considerando apenas o valor das matérias-primas utilizadas para a produção de ração, como soja e milho, o setor movimentou em 2014 cerca de 49 bilhões de reais.
Para 2015, considerando a projeção de crescimento da produção, num cenário de preços mais baixos, a expectativa é de movimentação de 52 bilhões de reais, disse Zani, ressaltando que as cotações da soja e milho em janeiro e fevereiro já são menores ante 2014, por contta das grandes safras globais.
CÂMBIO
Se há algo positivo para o setor em 2015, essas variável é um dólar mais forte frente o real, que pode elevar a competitividade das exportações de carnes do Brasil, com reflexo positivo para a indústria de ração.
“A desvalorização cambial para o exportador é uma maravilha, mas o câmbio também afeta a inflação”, disse o vice-presidente-executivo do Sindirações.
Mas ele ponderou que o dólar, dependendo do patamar, torna o produto brasileiro “sem adversário” no mercado internacional.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina e de frango, mas a maior parte da produção do país é consumida internamente.
Por Roberto Samora